Brilhante. E olha que minha relação com os
filmes dirigidos por Bob Fosse não é das melhores (acho, por exemplo, “All That
Jazz” extremamente exagerado e egocêntrico, todas as vezes em que o assisti
terminei com uma impressão exacerbada).
Mas não há como negar o fascínio que “Cabaret”
provoca. A atuação de Liza Minelli mostra-se um achado em uma personagem
carregada de maneirismos que vão, aos poucos, revelando-se camadas que parecem
se descortinar na verdadeira trama do filme, e até mesmo o fato de não ser
muito bonita depõe a favor da personagem, já que ela é uma dançarina no limiar
do fracasso que nutre o sonho (ou a ilusão) de ser uma grande atriz, embora
seja claro que seu lugar é –e provavelmente sempre será –aquele pardieiro dos
infernos onde dança todas as noites, numa Berlim em meados dos anos 1930.
Apesar disso, ela mantém uma aura de otimismo
ligeiramente excessivo que sempre a acompanha (e que faz lembrar a Cabíria, de
Giulietta Masina, numa das muitas referências à Fellini que se encontram por
toda a filmografia de Fosse). Um curioso contraponto à presença dela é seu
co-protagonista, o ingênuo, mas nem tanto, professor de inglês interpretado por
Michael York, que se revelará um inesperado par romântico, inclusive por razões
bem mais, digamos, ambivalentes (!).
Aquele é um mundo prestes a mudar. Percebe-se
isso em todo o lugar, em observações peculiares deixadas ao longo do filme (a
gradativa ascensão do nazismo), no clima de decadência que logo se instaura, e
na própria energia da encenação de Fosse, que brinca espertamente com os
conceitos arraigados de ingenuidade, e de uma insuspeita malícia que começava a
aparecer no cinema (e paralelamente em seus expectadores) na década de
1970.
Bob Fosse, de um modo
geral, e “Cabaret”, de modo particular, são uma enorme influência para
“Chicago”, de Rob Marshall, que ganhou o Oscar de Melhor Filme em 2002. Sabe-se
que Fosse tentou levar a peça para o cinema muitas vezes, antes de falecer, mas
o efeito ressonante que seu trabalho tem sobre esse filme vai muito mais longe.
Marshall não só valeu-se do mesmo clima e da mesma encenação, algo rebuscada,
como também carregou seu filme com o cinismo que Bob Fosse destila em
“Cabaret”, além de aproveitar, no roteiro, a mesma manobra narrativa de colocar
uma espécie de mestre de cerimônias a introduzir números musicais que são,
também eles, meras analogias do próprio andamento da trama. Isso, contudo, não
devia ser surpresa para ninguém: Não é de hoje que filmes recentes se amparam
em artifícios dos filmes de antigamente.
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