segunda-feira, 9 de novembro de 2015

O Amor Nos Tempos Do Cólera

Há um esforço nítido, até louvável, do diretor Mike Newell em transpor a prosa minimalista, colorida e vívida de Gabriel Garcia Marquez para a tela do cinema.
Esse é, desde já, um objetivo fadado ao fracasso, ou como seria mais justo neste caso específico, fadado a uma incongruente irrelevância em sua graciosidade.
A verve de Garcia Marquez é única e inimitável. Adaptá-la para outra mídia, então, uma ingrata tarefa. Prova disso, é o pouco conhecido e mediano (ainda que profundamente falho) "Ninguém Escreve Ao Capitão". Que o trabalho de adaptação da obra seja de uma fidelidade quase religiosa é algo de se esperar nesse esmero tão engajado.
O filme não poupa seus personagens. Apesar do clima incontornavelmente fantasioso que é inerente à Garcia Marquez, esse surrealismo não lhes alivia a barra: À eles está destinada toda sorte de frustrações, humilhações e desilusões que competem à condição humana. Embora a trama não lhes negue (no caso do casal protagonista) alguma redenção.
Na história, vemos o amor entre Florentino (Javier Bardem, sempre muito bom) e Fermina (a linda Giovanna Mezzogiorno) ser tolhido -e interrompido por uns bons cinquenta anos! -pelo pai da jovem, em prol do médido recém-chegado à aldeia. A amargura do protagonista acaba sendo também o que lhe afasta do mundo e das necessidades mundanas, pelo menos, a partir do momento em que ele descobre o encanto das mulheres que se entregam à ele (e as cenas subsequentes não economizam na beleza e na nudez delas), embora seu coração jamais deixe de querer mesmo Fermina.
E essa questão -a de se ter demais algo, em contraponto ao que se anseia sem nunca obter -é o drama que aflige o filme, o norte para o qual sua bússola apontará do primeiro ao último minuto.
Tal qual convêm ao romantismo rasgado que remete ao livro (e que remete, por sua vez, à 'latinidad' de seu autor), anos se transcorrerão com os personagens a padecer nessa expectativa de amor.
Que tudo seja amarrado com saborosa fluidez, é um dado que vem a amenizar uma possível desolação advinda disso, cortesia do indisfarçável timbre comercial do diretor Newell (artesão dos mais ecléticos tendo realizados obras desde a comédia "Quatro Casamentos e Um Funeral" até produções como "Harry Potter e O Cálice de Fogo").
Outro deleite é poder conferir Fernanda Montenegro numa produção internacional, embora muitos digam (com certa razão) que ela está sub-aproveitada.

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