sexta-feira, 27 de novembro de 2015

O Escafandro e A Borboleta

Até que ponto as limitações físicas realmente engessam o ser humano? A partir de qual terrível momento a arte não encontra mais expressão?
O diretor  Julian Schnabell mergulha neste lírico e inusitado conto de desamparo, baseado em um fato real, para aventurar-se nas intrincadas respostas à essas perguntas.
Seu protagonista está preso dentro de si mesmo, vítima de um derrame que lhe deixou somente os movimentos do olho esquerdo: Tudo que ele pode, portanto, fazer, é piscar.
Contudo, dentro dele, transborda a necessidade de se fazer ouvir, e tendo ele sido um bem-sucedido editor em Paris, há deveras muitas ideias que palpitam em sua mente, todo o tempo.
Fazendo jus a esse personagem principal, Schnabell compõe um filme feito de minúcias que se somam umas às outras, de lembranças que formam um afresco, um poema visual sobre a vontade pungente de viver e estar no mundo.
Rodeado por um time de lindas enfermeiras, e por uma série de escolhas estéticas que afastam o naturalismo e o realismo da história (e ela já tem realidade demasiada o bastante), ele tem a ideia de, nessas mesmas condições, escrever um livro. E acaba dando início, assim, em sua jornada.
Existem momento em que ele discorre sobre a fé e a religiosidade com um padre, e outros, onde a dicotomia entre suas lembranças pulsantes de outrora e sua condição de enfermo criam uma desigual impressão. Intrigante, também, a presença do grande Max Von Sydow como pai do protagonista.
Tudo neste filme é simbolismo e metáfora. E cabe ao expectador colher as que lhe são mais memoráveis, para tratá-las e interpretá-las segundo sua sensibilidade.
Para mim, entre outras coisas, as cenas de desmoronamentos de geleiras rodadas de trás para frente no final do filme são um convite à reflexão. Mas há muitas, muitas outras. O quê torna a obra de Schnabell, assim, riquíssima.

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