sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

O Regresso

 Se há algo que este filme ratifica, é o virtuosismo cada vez mais aplicado de Alejandro Gonzales Iñarritu. Ele pega uma trama de uma simplicidade gutural e a potencializa em um grande filme sobre vingança que ultrapassa as duas horas de duração. 
Não é o quê ele conta, mas como ele conta. 
A câmera de Emmanuel Lubezki elabora quadro de um esplendor inédito no cinema em 2015. Poucos foram os filmes capazes de rivalizar com esse acabamento visual: Puxando da memória, talvez, só “Mad Max-Estrada da Fúria” e “A Colina Escarlate” são capazes de lhe igualar nesses termos. Aqui, Iñarritu entrega uma obra completamente distinta de seu trabalho anterior, “Birdman”. Se o outro filme era uma dissertação sobre as diferentes percepções da arte e do processo criativo em si, “O Regresso” abandona qualquer um desses intelectualismos. Á exemplo do que Kubrick fazia, o filme de Iñarritu contraria e contradiz seu trabalho anterior pela simples mudança brusca de tema, ambientação e conceito. 
Leonardo Dicaprio (numa atuação carregada de precisão, expressividade e silêncio) é Hugo Glass, caçador e rastreador veterano da fronteira gelada dos EUA com o Canadá. Em meados do fim do século XIX, ele e seus conhecimentos soa necessários à uma empreitada que um grupo de  soldados e mercenários pagos empreendem á territórios longínquos e inóspitos, atrás de carne e couros valiosos. Lá, há muito perigo. Inclusive na forma de tribos hostis que não hesitam em atacá-los já nas espetaculares cenas iniciais do filme. Durante a árdua volta para a civilização, Glass é atacado por um urso imenso, em mais uma cena brilhantemente montada e orquestrada por Iñarritu. Seus ferimentos indicam morte iminente, e suas condições certamente atrasarão a tropa, mas o capitão (Domhnall Gleeson) não deseja deixá-lo para trás, ao contrário do rancoroso Fitzgerald (Tom Hardy, brilhante). Logo monta-se uma equipe para cuidar dele enquanto a tropa prossegue. Essa equipe inclui Fitzgerald, e dois jovens, um deles o filho metade indígena de Hugo Glass. 
Ao verem-se sozinhos, as intenções de Fitzgeral se revelam: Ele mata a sangue frio o filho de Glass, e depois enterra o próprio vivo, sob a relutante testemunha do outro jovem. Contudo, Glass não morre, e trava uma odisséia em meio à paisagem inóspita e gelada para procurar e achar Fitzgerald e consumar o desejo de vingança que queima dentro dele desde então. 
Ainda que seja a mola que impulsiona o filme e o seu protagonista, a vingança em si não é o cerne de “O Regresso”. Durante a maior parte de sua duração é o trajeto que Glass fará até atingir seu objetivo o verdadeiro mote do filme. O grande tema de “O Regresso” portanto, acaba sendo o embate do homem com a natureza. E é a partir dessas cenas que o diretor Iñarritu encontra a força de seu filme: Cada tomada é imbuída de um esforço sem igual de autenticidade e legitimidade técnica para com a ilustração da frágil condição humana perante um cenário tão lindo e tão selvagem. 

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