quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Sicario - Terra de Ninguém

Desde os primeiros takes já é possível perceber a força narrativa de Denis Villeneuve, o seu comprometimento singular com cada enquadramento, cada elemento que surgirá em cena, e o modo único como isso tudo fortalece seu registro cinematográfico à exemplo do que ele já fez nos poderosos “Incêndios” e “Os Suspeitos” (embora o “Homem Duplicado” também tenh alguns elementos admiráveis). 
Esse vigor é uma das muitas características notáveis que se percebe neste, e em todos os seus filmes. Aqui, acompanhamos uma jovem policial do departamento de narcóticos (Emily Blunt, maravilhosa no papel e no registro contido e sisudo que a personagem exige) tentando fazer a lei num território inóspito: as áreas fronteiriças dos EUA com o México. Logo na primeira cena a descoberta estarrecedora que ela faz não só determina os rumos da história, mas impõe o próprio tom do filme: Denso, cru, pesado e sem concessões. 
Na sequencia, a personagem de Emily é incluída em uma força-tarefa liderada por um oficial de objetivos e intenções ambíguas (Josh Brolin, administrando o tom exato de loquacidade e casualidade para ocultar suas facetas realmente perigosas). Mas o personagem verdadeiramente intrigante vem logo depois: Alejandro, interpretado com brilhantismo tétrico e sucintos tons de cinza por Benicio Del Toro. Misterioso, ele é quem catalisa as atenções da trama e do próprio expectador durante boa parte do filme. 

Para resumir, pode-se dizer que “Sicario” é um mergulho nas trevas sufocantes e escaldantes de um território sem lei e sem esperança, onde a violência surge como uma forma de expressão. O filme só empalidece nos momentos em que fica clara, às vezes explícita, a intenção de referenciar e até superar o que Steven Sodenbergh fez em “Traffic” não só em termos temáticos (e partindo disso, percebemos então o quanto é significativa a presença de Benicio Del Toro), mas também no tratamento de cena a cena, sobretudo o momento final que, tal como na obra de Sodenbergh, volta sua atenção para um jogo aleatória entre meninos. Não fosse esse fantasma a assombrar o filme de Villeneuve, ele teria feito um trabalho tão grande quanto os anteriores já citados.

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