quinta-feira, 17 de março de 2016

Contos da Lua Vaga

Este filme de Kenji Mizoguchi descortina áreas ainda nebulosas dos primórdios do cinema mundial: Muita coisa do que Mizoguchi realizou perdeu-se, tornando impossível ter-se uma perspectiva de sua filmografia. Seu trabalho aqui, lançado em 1953, vinha ao que parece de uma sucessão de grandes obras, onde um artesão hábil e experiente intercalava um grande filme à outro. Assim, “Contos da Lua Vaga” sobreviveu como um grande representante da excelência de Mizoguchi e do cinema japonês.
É fascinante acompanhar as manobras de câmera, efetivamente modernas, com as quais ele registra os percalços de uma família de camponeses. São dois irmãos que vivem à duras penas da venda de cerâmica. Um deles tem uma esposa dedicada, um filho pequeno e ambição de sobra, que já nas primeiras cenas percebemos ser um elemento que incomoda sua mulher. O outro vive aos atritos com a esposa, pois sonha em ser um samurai apesar da óbvia inaptidão para isso. Sob o perigo de uma guerra que ronda o Japão, os dois deixam suas esposas na aldeia para arriscar a sorte na cidade grande, mas só encontrarão armadilhas, cujas iscas serão justamente esses sonhos de grandeza.
É notável o emprego da técnica de Mizoguchi e o modo como ele usa os recursos à mão para criar distintas atmosferas (algumas até fantasmagóricas) sem no entanto amparar-se em escolhas óbvias, fazendo com que seu filme transcorra com maestria pela tela mesclando habilmente mistério, sobrenatural e dramaturgia.

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