terça-feira, 22 de março de 2016

Corrida Sem Fim

Comparar “Corrida Sem Fim” à “Sem Destino” é uma armadilha injusta à qual é, por vezes, inevitável cair. Afinal, ambos são ebulientes do mesmo período, ambos retratam um modo de vida alternativo que surgiu com a contracultura, e ambos são sobre carros.
Mas há um existencialismo no trabalho do diretor Monte Hellman que não existe no famoso filme de Dennis Hopper.
“Corrida Sem Fim” acompanha dois jovens hippies anônimos pelas estradas da América. Sua vida é em função desse movimento que o automóvel lhes proporciona. Em algum ponto, os dois encontram uma jovem, cujo nome, para eles e para o expectador permanecera também incógnito: Parece haver um curioso distanciamento, assim como uma certa indiferença nessa postura, e isso ironicamente contribui para a estranhamente perene carga dramática do filme.
Mesmo as relações afetivas parecem maculadas por esse novo viés de mundo que acompanha essa geração. A jovem transa com o Mecânico (e são esses o mais próximo de nomes que os personagens terão), mas é com o Motorista que irá ter uma relação complicada ao longo de todo o filme. Outro personagem de peso vem a ser o outro motorista (interpretado pelo ótimo Warren Oates) com quem eles logo travam um disputa que converte-se numa curiosa relação de amizade pela estrada afora.
Como as diversas paradas ao longo do caminho, a amizade que fazem com ele é também de natureza passageira: Ela é deixada de lado, inclusive pelo próprio Oates quando este, mais tarde, agrega elementos da história à muitas das mentiras que contava.
Não é nem mesmo um filme sobre a disputa na corrida de carros, ainda que esse seja um elemento enganosamente central. Vencer, para os dois protagonistas não possui qualquer importância como logo veremos. É um filme na verdade sobre como a sensação de estar perdido no mundo é palatável à qualquer pessoa jovem, de qualquer época ou geração, ainda que, na embriaguez dos anos loucos que serão vividos antes da maturidade chegar (e como viveram anos loucos aquela geração) essa conscientização seja um privilégio que seu orgulho ingênuo impeça-os de identificar.

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