Comparar “Corrida Sem Fim” à “Sem Destino” é
uma armadilha injusta à qual é, por vezes, inevitável cair. Afinal, ambos são
ebulientes do mesmo período, ambos retratam um modo de vida alternativo que
surgiu com a contracultura, e ambos são sobre carros.
Mas há um existencialismo no trabalho do
diretor Monte Hellman que não existe no famoso filme de Dennis Hopper.
“Corrida Sem Fim” acompanha dois jovens hippies
anônimos pelas estradas da América. Sua vida é em função desse movimento que o
automóvel lhes proporciona. Em algum ponto, os dois encontram uma jovem, cujo
nome, para eles e para o expectador permanecera também incógnito: Parece haver
um curioso distanciamento, assim como uma certa indiferença nessa postura, e
isso ironicamente contribui para a estranhamente perene carga dramática do
filme.
Mesmo as relações afetivas parecem maculadas
por esse novo viés de mundo que acompanha essa geração. A jovem transa com o
Mecânico (e são esses o mais próximo de nomes que os personagens terão), mas é
com o Motorista que irá ter uma relação complicada ao longo de todo o filme.
Outro personagem de peso vem a ser o outro motorista (interpretado pelo ótimo
Warren Oates) com quem eles logo travam um disputa que converte-se numa curiosa
relação de amizade pela estrada afora.
Como as diversas paradas ao longo do caminho, a
amizade que fazem com ele é também de natureza passageira: Ela é deixada de
lado, inclusive pelo próprio Oates quando este, mais tarde, agrega elementos da
história à muitas das mentiras que contava.
Não é nem mesmo um filme
sobre a disputa na corrida de carros, ainda que esse seja um elemento
enganosamente central. Vencer, para os dois protagonistas não possui qualquer
importância como logo veremos. É um filme na verdade sobre como a sensação de
estar perdido no mundo é palatável à qualquer pessoa jovem, de qualquer época
ou geração, ainda que, na embriaguez dos anos loucos que serão vividos antes da
maturidade chegar (e como viveram anos loucos aquela geração) essa
conscientização seja um privilégio que seu orgulho ingênuo impeça-os de
identificar.
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