Antes de se tornar a estrela que é, a sensacional
Jessica Chastain participou desta produção televisiva que, de tão risível,
chega até a ser divertida.
Existe certa gratificação nesse ato de escavar
filmes desconhecidos de atores ou atrizes que se tornam conhecidos e admirados.
Datada de 2006, esta minissérie tentou pegar
carona no sucesso de "Piratas do Caribe-A Maldição do Pérola Negra"
(de 2003) que, de tão estrondoso, quase fez ressurgir o gênero "filmes de
pirata". Muitas foram as produções picaretas que valeram-se do mesmo mote,
a mesma ambientação e o mesmo estilo para capitalizar em cima do sucesso de
Jack Sparrow, e esta 'pérola' (com o perdão do trocadilho) foi um delas.
A personagem de Jessica, inclusive, lembra
muito a de Keira Knightley no primeiro filme: A mocinha em perigo, filha de um importante
figurão da região, que cai de amores pelo herói da trama, e se vê sempre em
perigo para que ele possa providencialmente salvá-la.
Jessica é, aliás, o único elemento do filme que
consegue superar "Piratas do Caribe": Desde aquela época já era visível
a sua capacidade de hipnotizar a câmera com sua presença magnética, seu talento
fora do comum e sua beleza desigual, colocando no chinelo a mocinha de Keira
Knightley.
Mas, Jessica não faz milagres e, tirando ela,
todo o resto do filme é digno de pena...
Tudo começa quando um jovem oficial da marinha
(Mark Umbers, inexpressivo feito o Steve Segal!) no século XVIII escolta a
jovem filha de um governador (Jessica, sempre linda e cativante) até sua
ilha-natal, e no caminho, os dois se apaixonam. Acontece que o local esta na
mira do notório pirata Edward Teach, vulgo Barba Negra (Angus MacFadyen, de
"Coração Valente", numa das interpretações mais insanamente
canastronas da história da Humanidade), que possui um certo conchavo com o
corrupto senhor governador, pai da mocinha (Richard Chamberlain, mais perdido
que cego em tiroteio), o que servirá como um obstáculo entre o romance dos
dois.
Pelo menos há uma certa paixão em "Barba
Negra": Todos os clichês e cenas batidas do gênero estão lá, representados
de forma potente em um ou outro momento, para nos lembrar que aquilo é um
"filme de pirata". E em meio à muita algazarra mal filmada e mal
dirigida, dá para encontrar ali, no meio daquela lambança o ator Nigel Tery,
que em outros tempos melhores que este, foi o Rei Arthur, na primorosa versão
da lenda dirigida por John Boorman, "Excalibur". Mas tudo é tão
precário, tão fuleiro que muitas são as cenas em que você não acredita no que
está vendo.
Um exemplo? Logo, no início, há uma cena de
dança, na qual Jessica e o ilustríssimo protagonista Umbers conversam enquanto
dançam. E o negócio é assim: Em uma cena como essa, durante a filmagem, os
atores encenam a dança sem música, para que o equipamento de áudio possa captar
todo o diálogo sem nada atrapalhando; a música só é inserida na cena durante a
pós-produção. Acontece que, neste caso, eles esqueceram de inserir qualquer
música!!! Os atores dançam, os figurantes ao redor deles dançam, e até uma
banda de músicos aparece fazendo de conta que tocam alguma coisa, mas não há o
menor ruído de música na cena inteira!!! É um silêncio estranho que deixa tudo
com um clima surreal e patético.
Há outro momento, mais próximo do fim, em que
uns piratas são alvejados numa ilha por dardos venenosos dos indígenas
(entendeu o quê eu quis dizer com "cenas batidas"?). Um dos piratas
estica a mão para tirar o dardo encravado no pescoço de um dos cadáveres, e ao
tentar removê-lo, toda a maquiagem do ferimento começa a desgrudar junto com o
dardo (!), e aí o que o ator faz? Muito na malandragem, ele usa o dedo polegar
e dá um empurradinha para a maquiagem dar uma colada de novo (!!).
A vantagem é que tudo é tão zoado que dá pra
assistir o filme na galhofa mesmo, para rir do que acontece, ainda que a boa
presença de Jessica Chastain inspire um certo lamento pelo filme não ser
melhor.
Ao menos hoje, ela está em produções de
qualidade e de prestígio, como ela merece!
Agora, onde será que estão
Mark Umbers, Angus MacFadyen e sua turma?...
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