Como costuma acontecer sempre, o mestre Akira Kurosawa encontra nas mais diversas aspirações de premissa e criação a razão de ser de alguns dos mais memoráveis e admiráveis tratados morais e estéticos vislumbrados na cinema.
O movimento dos corpos, as construções das cenas, a dramaturgia que norteia seus personagens. O critério de importância que a história tem, a pesar sobre todas as decisões do filme, são indicativos inquestionáveis de um mestre exercendo seu ofício.
O movimento dos corpos, as construções das cenas, a dramaturgia que norteia seus personagens. O critério de importância que a história tem, a pesar sobre todas as decisões do filme, são indicativos inquestionáveis de um mestre exercendo seu ofício.
Em sua excelência, o mestre ainda compartilha
com seus conterrâneos a compreensão que faltou em tantos outros autores que se
atreveram a imbricar sobre Shakespeare e a eles proporcionar uma visão
universal sobre as pulsões dramáticas de dubiedade moral inerentes à condição
humana.
Em “Trono Manchado de Sangue”, ele transpõe
“MacBeth” do bardo para o contexto dos filmes de samurai, preservando-lhe a
relevância, a verve de genialidade, a melodia fascinante e hipnótica com a qual
discute a escorregadia natureza da guerra e dos guerreiros por meio da história
do samurai que impelido pelo presságio de uma feiticeira e pela ambição
desmedida da própria esposa se converte num déspota ardiloso e traiçoeiro ao
matar seu comandante e dele usurpar seu exército e seu reino.
Embora a versão rebuscada e
lúgubre realizada nos anos 1940 por Orson Welles seja primorosa, é com justiça
a versão de Kurosawa que se sobressai à crônica cinematográfica como a mais
preciosa, arrepiante e magnífica transposição desta tragédia para as telas.
Seu filme é ambientado num mundo enevoado e
soturno, onde os simbolismos de mau agouro se acham impregnados na narrativa
esplêndida, e na condução exemplar da trama, pontuada por cenas absolutamente antológicas: A primeira aparição da bruxa, antes de sua definitiva premonição num recurso simples e brilhante de encenação; a morte do senhor feudal; as batalhas magnificamente bem orquestradas que se seguem; e a sequência espantosa e espetacular da floresta que se move.
De quebra, faz um dos
filmes de samurai mais empolgantes e eletrizantes de todos os tempos.
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