As verdades cruéis, aquelas que normalmente
homens e mulheres dizem uns aos outros no ponto crítico do esfacelamento de uma
relação, são o combustível que ironicamente abastece a poética prosa do
roteirista Patrick Marber em “Closer-Perto Demais”.
Esta é uma obra que se debruça sobre as
dinâmicas dos relacionamentos a dois. E como todo grande trabalho, há nele uma
auto-consciência de tudo o que faz –e tudo o que não faz –um filme ser
memorável aos olhos da platéia: Interessa ao roteiro de Marber e à
refinadamente cirúrgica direção do grande Mike Nichols somente os momentos em
que tais relacionamentos se iniciam e se extinguem. Todo o tempo que transcorre
entre esses dois extremos –seja ele curto ou longo –é ignorado pela narrativa
por meio de uma sutil, incisiva e impiedosa edição.
Quando “Closer” começa, somos assim
introduzidos, ao som da hipnótica The Blower’s Daughter, de Damien Rice, à
norte-americana, igualmente hipnótica, Jane (Natalie Portman). O fascínio que
Jane desperta não é um acaso: No contracampo de sua aparição está, também ele
reagindo à sua descoberta, o jovem inglês Daniel (Jude Law).
O diretor Nichols encontra uma tradução cênica
perfeita para o registro de uma conexão emocional que parece nascer. E como foi
dito lá em cima, o tempo avança para mostrar as iminentes divergências entre os
dois, na forma da fotógrafa Anna, interpretada por Julia Roberts. Daniel flerta
com ela que, embora recíproca às suas investidas, casa-se com o cirurgião Larry
(Clive Owen, a última ponta deste quadrado amoroso composto de intérpretes
espetaculares). Ainda assim, Daniel e Anna tornam-se amantes, o quê leva o
casamento dela com Larry ao divórcio.
Uma vez separados, ele elabora um estratagema
para recuperá-la e desmoralizar Daniel.
Último grande trabalho do
saudoso diretor Mike Nichols (realizador de obras tão admiráveis quanto
díspares, como “A Primeira Noite de Um Homem”, “Ardil 22”, “Quem Tem Medo de
Virginia Wolf?” e “Uma Secretária de Futuro”), “Closer” reflete sua paixão pelo
teatro (em momento algum a narrativa adquire o peso e o tédio que se imagina
ter uma adaptação dos palcos), e pelos atores (o elenco, restrito e impecável,
é um dos brilhos do filme, com destaque para Natalie Portman e Clive Owen)
valendo-se desses méritos superlativos pra criar esta pungente análise da
degradação de valores ante a deterioração dos relacionamentos modernos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário