“People will can!” essas três palavras (cuja
tradução para o português não chega nem perto da força emocional com que são
ditas pelo elenco) fazem parte do amplo leque de elementos que tornam este
filme um objeto de culto por seus apreciadores.
Em 1989, quando chegou aos cinemas a lúdica e
insólita história do fazendeiro (Kevin Costner) que arrisca tudo para atender a
uma voz misteriosa e constrói um campo de beisebol no meio de uma plantação de
milho, para então receber ocasionais ‘visitas’ dos fantasmas de célebres
jogadores de beisebol do passado, este trabalho foi recebido como uma bela
reafirmação, muito bem conduzida pela sensibilidade do diretor Phil Aden Robinson,
do modo de vida americano, o quê o cinema hollywoodiano volta e meia gosta de
fazer. O tempo, contudo, coloca todas as coisas em uma perspectiva genuína, e “Campo
dos Sonhos”, com o passar dos anos passou a ser visto como a obra singular que
é.
Os valores, tão norte-americanos,
materializados na paradisíaca visão da fazenda e seus campos extensos e
amarelos de milho, estão lá, como também está Kevin Costner, ator que, por
muito tempo, foi referência para esse tipo de associação ao ideal americano
(não por acaso, no ano seguinte, chegaria aos cinemas o filme que o consagrou
junto ao Oscar, o faroeste de tintas ecológicas e pacifistas “Dança Com Lobos”).
Um olhar mais atento pode notar, porém, que “Campo
dos Sonhos” tem muito mais que isso: Lá está, também, uma das últimas atuações
do maravilhoso Burt Lancaster (à medida que foi envelhecendo, suas aparições em
filmes foram ficando cada vez mais escassas). Ele está enternecedor no papel do
velho médico cujo objetivo de vida o afastou de seus sonhos, mas que terá uma
nova chance justamente com a intervenção de Costner, e de muito da
maravilhosamente pouco explicada magia que permeia todo o filme.
Lá, também está James Earl Jones e seu
vozeirão, carrancudo de início, num personagem que me lembrou um bocado o
escritor J.D. Salinger de “O Apanhador No Campo de Centeio”, mas que vai se
desnudando como ser humano ao longo da trama, terminando por ser uma das
presenças mais emocionantes do filme.
Mas, talvez, o mais brilhante de tudo seja
mesmo a direção de Aden Robinson (nos últimos anos, ele tem se dedicado mais à
TV, onde dirigiu-se episódios para a minissérie “Band Of Brothers”, por
exemplo), que consegue criar um clima mágico e lírico, ao mesmo tempo dosado
com certa subversão, mas que jamais deixa de encantar o expectador.
Ao fim de “Campo dos Sonhos”
somos deixados com uma sensação de bem-estar, de otimismo e de gratidão, por um
filme tão maravilhoso ter chegado até nós.
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