“Portal da Carne” é um filme erótico, mas é um
filme erótico nos moldes da sempre desigual cultura japonesa. Isto é,
trabalha-se o aspecto fetichista em torno de mulheres nuas, amarradas (!) e
apanhando (!!).
São duas cenas assim que se seguem brindadas
com a beleza fulgurante de Misako Tominaga (a mais linda dentre todas as
atrizes do filme) e da protagonista, Yumiko Nogawa.
Contudo, de cenas memoráveis (nos mais
diferenciados sentidos e aplicações) o filme de Seijun Susuki não carece. São
muitas: A morte da vaca, e subseqüente esquartejamento em clima absolutamente
surreal; os momentos particulares de devaneio de cada uma das prostitutas,
visualizados cada um em uma cor distinta; as inúmeras cenas justapostas que se
fundem para sugerir lembranças, associações e/ou delírio; a cena da sedução do
padre norte-americano; e tantos outros momentos mais.
Diretor iconoclasta que é, Susuki capta bem
esses valores e códigos e é particularmente feliz ao harmonizá-los com a trama
simplória enunciada pelo roteiro.
Seu talento minimiza em cena os muitos
percalços enfrentados para a execução do filme, permitindo que restasse ao
expectador uma obra envolta em cores quentes (e minuciosas), de uma divertida
vulgaridade em contraponto a uma poderosa conscientização que brota das
entrelinhas em relação à vã condição humana, explicitada pelas circunstâncias
mias que reais em que esses personagens do pós-guerra se viram arremessados.
Não interessa a Seijun
Susuki ser um estudioso das crônicas sociais, mas em sua inventiva
generosidade, ele dá uma voz inesperada e contundente aos tantos anseios que
por ventura brotam daquelas almas perdidas.
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