Muitos foram os casais que suspiraram (e ainda
suspiram) por esta fantasia romântica que ganhou uma aura lendária (como muitos
filmes daquele tempo) após suas incontáveis reprises na televisão.
Auxiliaram para isso a boa presença do ator
inglês Christopher Reeve, se saindo maravilhosamente bem como galã romântico
depois de uma espetacular estréia como o até hoje imbatível intérprete supremo
de Superman, no filme homônimo, e o roteiro de Richard Matheson (a partir de um
romance de sua própria autoria), um bocado bem resolvido em questões de ritmo,
lógica e objetividade narrativa; algo que já se evidenciava no trabalho de
Matheson desde “Encurralado” de Steven Spielberg.
Claro que não se deve elevar tanto assim as
expectativas para se encarar este filme agridoce, inapelavelmente romântico e
até “água com açúcar” como diriam os mais impacientes, mas é aquele tipo de
filme que acerta precisamente naquilo que se propõe. Prova disso é a inesperada
lembrança dele, por alguns críticos, em muitas listas dos melhores filmes dos
anos 1980, inspiradas sem dúvidas por um carinho, um afeto e uma nostalgia em
relação ao filme que se sobrepõe à qualquer avaliação mais criteriosa.
Mas, enfim, não é essa a própria experiência
cinematográfica? O ato de nos deixar embriagar pelas emoções propostas de uma
história que, porventura, tenha o poder de nos arrebatar?
A trama tem início em 1972, quando a primeira
peça do dramaturgo Richard Collier (Christopher Reeve, que nas primeiras cenas
nos passa a impressão de que ouviremos a famosa trilha sonora de “Superman”
tocar) tem uma entusiasmada estréia.
Em meio aos amigos, colaboradores e
admiradores, há uma figura enigmática: Uma senhora que lhe dá um relógio antigo
de presente, e lhe fala com voz embargada e comovida “-Volte para mim!”.
Oito anos se passam e, já em 1980, o mesmo
Richard Collier é um dramaturgo já consolidado às voltas com as pressões do
dia-a-dia.
Estafado, ele procura paz ao hospedar-se num
hotel, nas mesmas proximidades onde ocorreu sua estréia oito anos antes. Lá, em
uma exposição histórica, ele encontra um quadro de uma famosa atriz dos anos
1910, Elise McKenna (a absurdamente linda Jane Seymour) por quem ele
inexplicavelmente se apaixona. Obcecado por ela, Collier logo descobre que
tratava-se da mesma senhora que lhe deu o relógio em sua noite de estréia
(vindo a falecer na mesma ocasião), e passa a pesquisar sua vida
exaustivamente.
Chega um ponto em que nada mais o satisfaz,
exceto a possibilidade de encontrar-se com a mulher daquela foto, e aí, Collier
ouvindo as teorias de um professor universitário recorre a uma auto-hipnose que
o transporta no tempo, para 1912, justamente um momento em que Elise esteve
naquele mesmo hotel para a apresentação de uma peça de teatro.
Um amor, tão improvável, torna-se então
possível de ser consumado, mas ainda assim, obstáculos surgirão.
Não há dúvidas de que chega a escorrer mel da
tela neste açucarado melodrama romântico, certamente um dos filmes que ajudaram
a fazer a fama de Christopher Reeve.
Além dele, também brilha no filme a presença
incisiva e sempre elegante do grande Christopher Plummer e, para mim,
particularmente, a apaixonante e angelical Jane Seymour, que na época tinha
participado também de um filme de James Bond (“Com 007 Viva e Deixe Morrer”,
com Roger Moore), e é até hoje uma das mais celebradas bondgirls.
Se visto hoje, por muitos dos consumidores (e
consumidoras) dos romances padronizados produzidos pelos estúdios, alguns
haveriam de se queixar do filme e de sua ausência de um final feliz: Tal e qual
na tradição do romantismo literário, o amor é uma chama que consome os
personagens e, na ausência dela, suas vidas mínguam até que, por fim, se
acabam. Morrem, literalmente, de amor.
A cena final, portanto, é um atenuante por meio
do qual os realizadores identificaram a rejeição que o público sentiria por
essa desventura reservada aos personagens, nela, Elise e Richard se reencontram
num pós-vida, para terminar aquilo que não puderam em vida, e assim serem
felizes.
Um artifício que, acredito,
deve ter influenciado James Cameron, que deu à seu “Titanic”, um desfecho de
características bastante parecidas.
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