O início do filme é insano (e insanidade parece
ser uma palavra muito apropriada ao universo cinematográfico de Takashi Miike):
Trata-se de um turbilhão sensacional de imagens, onde basicamente um grupo de
jovens promove um extermínio entre membros da Yakuza, a máfia japonesa. Logo
aí, Miike dá seu recado: Eis um artesão de imagens que não prescinde de grandes
orçamentos, efeitos digitais ou o apoio dos estúdios para manipular as mais
variadas possibilidades do cinema, e com elas conceber cenas de uma genialidade
inconteste.
O recado em si é também, uma faca de dois
gumes: Se é na companhia de uma diretor genial e incansável que estaremos nas
quase duas horas magníficas e inesperadas que se seguirão, é também com alguém
de índole feroz, disposto a levar o filme e quem atrever-se a assisti-lo ao
limite, com instantes que não apenas desafiarão a lógica, mas também o bom
senso, o tradicional, e as próprias convenções de cinema comercial arraigadas
em nós mesmos.
Após a delirante abertura que expõe os
personagens principais, assim como a indomável personalidade de seu realizador,
descobrimos que alguns desses jovens têm procedência chinesa e, subentende-se,
que suas ações visam algum tipo de vingança. Mas nada é, de fato, comprovado no
filme de Miike.
Seus personagens –os protagonistas inclusos
–não são mais do que tipos, em especial o taciturno, vingativo, normalmente
silencioso e constantemente emblemático “herói” trajado de sobretudo
interpretado por Riki Takeuchi. Dele, sequer temos vislumbre das emoções,
sempre mascaradas pelo verniz de uma impassibilidade típica de durões do cinema
moderno.
O personagem de Sho Aikawa, o policial que
investiga as ações de todo esse grupo de amigos, infiltrados em diferentes
círculos de várias facções da yakuza, é quem mais tem a chance de demonstrar
alguma emoção (ou qualquer elemento humano), e seus ocasionais momentos com a
família. Embora no fim, isso sirva apenas para potencializar a crueldade
implacável de Takashi Miike para com os habitantes deste seu mundo torpe.
No final das contas, o que todos eles querem é
lucrar, de uma forma ou de outra. E Miike reserva assim toda a sorte de
absurdos como castigo aos que ousaram compor sua fauna desigual de figuras
mundanas. Seu filme é estranho, sanguinolento, violentíssimo, pervertidamente
sensual, quase surreal em seu exagero, incluindo um final não apenas inusitado
e surpreendente, mas que joga por terra toda a idéia que se fazia do filme até
ali, mas também notável em inúmeros e incontáveis aspectos, configurando aquele
tipo de obra onde se pode, entre outras coisas, testemunhar um verdadeiro
mestre em exercício de sua arte. Ainda que uma arte carregada da mais
desconcertante acidez e do mais irrestrito despudor.
Todas essas características somadas logo
fizeram de “Morrer Ou Viver” uma espécie de cult, com direito a ainda mais duas
continuações (que a bem da verdade não continuavam coisa alguma, mas essa, é
uma outra história...).
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