quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Beleza Americana

Sam Mendes era um renomado diretor de teatro britânico antes de aventurar-se, pela primeira vez, no cinema. Sua escolha para estrear na grande tela foi um roteiro incisivo de Alan Ball (mais tarde, o aclamado criador da série “A Sete Palmos”), envolto numa extraordinária névoa atemporal que buscava emular certos elementos do cinema de Douglas Sirk: Um exemplar dos dramas de costume americanos que insistem em desfraldar as podridões escondidas sob a fachada de tranqüilidade da classe média.
Essas pulsões inevitáveis de neurose surgem num subúrbio norte-americano quando um homem de classe média começa a relembrar o ano anterior à sua morte.
Na narração em off (recheada de uma pungente ironia), Lester Brunham (Kevin Spacey, brilhante), recorda em detalhes a relação incontornavelmente distante com a mulher (Annete Bening), a hostilidade da filha (Thora Birch), a inusitada amizade com um adolescente fornecedor de maconha apaixonado por sua filha (Wes Bentley),e sobretudo, a aparição da insinuante ninfeta Angela (Mena Suvari), cujo desejo por ela o levou a decisões que radicalizaram seu modo de vida.
Todos esses serão elementos fundamentais no desenlace trágico de sua história.
È curioso notarmos que “Beleza Americana” foi agraciado com o Oscar de Melhor Filme no ano 2000, quando ele tratava-se, justamente, de uma visão algo impiedosa e crítica de minúcias corrompidas e corrosivas da própria sociedade norte-americana –prova de que os críticos e membros da Academia se deixaram fascinar por outros elementos do filme que não sua postura inquisitiva.

Não é à toa: Realizado com extrema competência (a fotografia de Conrad L. Hall, premiada com os Oscar, é um detalhe à parte conferindo um viés analítico e antropológico à criteriosa encenação de Mendes), trás uma soberba atuação de Kevin Spacey –também ele premiado com um Oscar, o de Melhor Ator.

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