Sam Mendes era um renomado diretor de teatro
britânico antes de aventurar-se, pela primeira vez, no cinema. Sua escolha para
estrear na grande tela foi um roteiro incisivo de Alan Ball (mais tarde, o
aclamado criador da série “A Sete Palmos”), envolto numa extraordinária névoa
atemporal que buscava emular certos elementos do cinema de Douglas Sirk: Um
exemplar dos dramas de costume americanos que insistem em desfraldar as
podridões escondidas sob a fachada de tranqüilidade da classe média.
Essas pulsões inevitáveis de neurose surgem num
subúrbio norte-americano quando um homem de classe média começa a relembrar o
ano anterior à sua morte.
Na narração em off (recheada de uma pungente
ironia), Lester Brunham (Kevin Spacey, brilhante), recorda em detalhes a
relação incontornavelmente distante com a mulher (Annete Bening), a hostilidade
da filha (Thora Birch), a inusitada amizade com um adolescente fornecedor de
maconha apaixonado por sua filha (Wes Bentley),e sobretudo, a aparição da
insinuante ninfeta Angela (Mena Suvari), cujo desejo por ela o levou a decisões
que radicalizaram seu modo de vida.
Todos esses serão elementos fundamentais no
desenlace trágico de sua história.
È curioso notarmos que “Beleza Americana” foi agraciado
com o Oscar de Melhor Filme no ano 2000, quando ele tratava-se, justamente, de
uma visão algo impiedosa e crítica de minúcias corrompidas e corrosivas da
própria sociedade norte-americana –prova de que os críticos e membros da
Academia se deixaram fascinar por outros elementos do filme que não sua postura
inquisitiva.
Não é à toa: Realizado com extrema competência
(a fotografia de Conrad L. Hall, premiada com os Oscar, é um detalhe à parte
conferindo um viés analítico e antropológico à criteriosa encenação de Mendes),
trás uma soberba atuação de Kevin Spacey –também ele premiado com um Oscar, o
de Melhor Ator.
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