segunda-feira, 31 de outubro de 2016

O Espião Que Sabia Demais

Filmes como “Deixe Ela Entrar” definem a carreira de um cineasta.
Para o bem e para o mal, inclusive: Há sempre a possibilidade (injusta, até) de o público esperar por um trabalho seguinte que mantenha a mesma excelência, a mesma convergência de fatores, muitas vezes únicos, que fizeram aquele filme específico brilhar.
E “Deixe Ela Entrar”, sempre ficou bem claro, era um filme único.
Desnecessário dizer que sua refilmagem americana foi incapaz de capturar a mesma magia que pulsa, sem maiores esforços, do original.
E quanto ao seu diretor, o talentoso Thomas Alfredson?
Ironicamente, ele passou os anos seguintes à bombástica consagração de seu filme trabalhando, também, na realização de uma refilmagem.
Todavia, “O Espião Que Sabia Demais” já era um filme de espionagem antigo (e o público, como se sabe, tem memória relativamente curta), datado da década de 1970 (na realidade, condensado de uma minissérie inglesa), e esse projeto abria plenamente espaço para uma repaginação em todos os âmbitos (artísticos, políticos, cinematográficos). Enfim, havia a possibilidade de fazer todo um novo filme.
E é isso que o novo trabalho de Alfredson trás: Toda uma nova percepção, uma nova e empolgante forma de se fazer cinema, tão inebriante e fascinante quanto o magnífico filme de vampiros que o revelou.
O ano é 1973. George Smiley (Gary Oldman, hipnótico), veterano recém-despedido do Serviço Secreto Britânico deve sigilosamente voltar à ativa em face da morte de seu antigo chefe, Control. Sua missão: rastrear o traidor infiltrado no "Circo" -a cúpula dos membros do alto escalão do Serviço Secreto- que Control foi incapaz de descobrir, e que está fornecendo continuamente informações a um misterioso agente russo denominado Karla.
A falta de pressa com que a trama se desenlaça exige paciência do expectador médio habituado aos blockbusters de sempre. Esse detalhe, porém, agrega mais mérito ao filme que une, de maneira curiosa, o anacronismo (do modo como a produção trabalha seu registro este é, em todos os sentidos clássicos, um filme de época) à inovação (o tom desigual e a narrativa cheia de particularidades brilhantes que dão ar completamente renovado ao gênero).

É, com freqüência, um trabalho cheio de requinte de Alfredson onde, em meio ao extremo refinamento de seu impecável elenco inglês (com nomes como Colin Firth, Toby Jones, Benedict Cumberbath, Tom Hardy e Mark Strong) destaca-se a soberba e minuciosa composição de Gary Oldman.

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