terça-feira, 1 de novembro de 2016

Metropolis 1927 e 2001

A trama do grande clássico é a seguinte: Dividida por classes distintas (a plebe oprimida e trabalhadora e a elite hedonista e opressora), a cidade futurista de Metropolis evita o caos e o conflito de uma polarização de massas graças aos esforços de uma líder em meio aos trabalhadores pobres: A revolucionária Maria, que deseja ver sua classe beneficiada por condições mais justas, e no processo, ainda acaba conquistando o coração do jovem Freder, filho do governante de Metropolis.
Entretanto, num plano insidioso, os empresários da cidade providenciam, através de um cientista, uma espécie de clone malvado de Maria, que sairá do controle e irá incitar as classes inferiores, moradoras do subsolo à uma violenta rebelião.
Carregado de simbolismo, subtexto e metáforas brilhantes (especialmente notáveis pelo quão antigo o filme é; e pelo quanto poderia ter envelhecido, mas não envelheceu, seu discurso em torno das políticas trabalhistas e das engrenagens da luta de classes), este grande trabalho do mestre alemão, Fritz Lang, datado de 1927, é um marco inestimável na ficção científica, e por muito tempo permaneceu incólume às tentativas de reinvenção.
Refilmagens, em geral, servem à duas coisas: Uma, comparar as distintas visões que dois realizadores de talento possuem do mesmo material; e outra, ressaltar o valor do filme original, evidenciado por meio da inferioridade flagrante de uma nova versão, como costuma acontecer em muitos casos.
Todavia, um resultado completamente diferente ocorreu em 2001, quando este clássico de Fritz Lang, e seu conceito, foram transpostos para o formato de anime (uma animação japonesa) pelos mestres Katsuhiro Otomo (roteiro), criador de “Akira”, Ozamu Tezuka (autor da adaptação para mangá), criador de “Astroboy”, e Rintaro (direção), realizador de “Galaxy Express 999”.

Nesta nova a arrojada versão, a história mantem-se quase a mesma: Existe a mesma divisão de classes, que leva os líderes da cidade a recorrer à outros artifícios para controlar o proletariado. Em meio a essas tensões, cientistas criam a menina Tima, uma andróide constituída de vasta capacidade para conectar-se com toda a rede computadorizada da cidade de Metropolis –e dela assumir controle.
É por isso, talvez, que Rock, o filho do todo poderoso da cidade, deseja encontrá-la e destruí-la, a despeito do fato de Tima, em seu breve contato com os despossuídos do lado pobre de Metropolis, começar a adquirir insuspeitas emoções, inclusive devido ao vínculo que estabelece com um jovem e humilde rapaz.
Todavia, como toca ao brilhante cinema de animação produzido no Japão, a redenção, para toda e qualquer alma, não é um artigo cujo preço não seja o sacrifício.

Na sua decisão de trazer para o contexto técnico e artístico de seu próprio ofício a obra-prima de Lang, os realizadores Otomo, Tezuka e Rintaro, ao mesmo tempo em que conseguiram se equilibrar numa abordagem respeitosa, até reverente do filme original (que notadamente influenciou profundamente trabalhos de ambos), também agregaram ao projeto sua própria visão e estilo, obtendo um produto absolutamente único nos mais diversos ângulos e considerações.

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