Este filme, hoje visto como uma espécie de
‘clássico maldito’, pegou muita gente de surpresa especialmente aqueles que
achavam que os trabalhos do diretor inglês Adrian Lyne se resumiriam a obras
sobre os inúmeros desdobramentos do ato do adultério.
De repente, Lyne, com suas câmeras a registrar
imagens escolhidas com perfeição, entregava um filme de terror, com um roteiro
do à época celebrado Bruce Joel Rubin (que havia ganhado, em 1990, o Oscar da
categoria por “Ghost-Do Outro Lado da Vida”) que abordava num único e exótico
caldeirão, experiências militares, traumas da guerra do Vietnam, fantasmas e
questionamentos metafísicos de ordem esotérica, que terminavam não se afastando
muito da temática de seu mais famoso filme.
Seja de Bruce Joel Rubin, seja de Adrian Lyne,
“Alucinações do Passado” é, de ambos, o melhor trabalho.
Jacob (um competente Tim Robbins) é, como
percebemos na acachapante cena que dá início ao filme, um veterano da Guerra do
Vietnam. Sonhos (ou lembranças) de sua experiência com a guerra lhe são
recorrentes, em especial, um episódio ocorrido lá, cujos desdobramentos são
nebulosos em sua memória. Atualmente, Jacob vive uma vida longe de ser a que
ele tinha antes de ir para o campo de batalha: Se antes ele tinha esposa e
filhos, agora ele trabalha como funcionário dos correios e vive com uma colega
(Elisabeth Peña, surpreendentemente sensual). Um de seus filhos, o mais novo
(interpretado pelo garotinho-sensação da época, Macaulay Culkin, de “Esqueceram
de Mim”), morreu em um acidente, o quê causou seu afastamento da família. Ele
sente que algo está errado, e os pesadelos constantes apenas comprovam isso.
Aos poucos, aliás, esses transtornos começam a se passar em sua vida desperta,
como na horripilante ocasião em que ficou preso numa estação abandonada do
metrô –ou seria toda a realidade de Jacob, também ela, um pesadelo?
Sem as respostas, e passando a duvidar cada vez
mais de sua sanidade, ele começa a testemunhar criaturas demoníacas tomando
forma ao seu redor, nos momentos mais perplexos, e suspeita que tudo pode estar
ligado à uma conspiração envolvendo um experimento químico no qual estariam
incluídos o próprio Jacob e seus companheiros do Vietnam.
Ao assisti-lo, são perceptíveis os elementos
que tornaram “Alucinações do Passado” uma obra memorável: Um clima soturno
desigual, reforçado por reviravoltas radicais de roteiro que imprimem uma
sensação de inquietação, emoldurado com primor pela fotografia de Jeffrey
Kimbal que alterna enquadramentos estilisticamente panorâmicos com closes
minuciosos; cenas concebidas com elevada noção de surrealismo tétrico –sendo a seqüência
do hospital/hospício um dos momentos mais notáveis –e uma proposital oscilação
de tom (lírico nas lembranças com o filho, árido nas cenas do Vietnam, sombrio
nas cenas urbanas, predominantes no filme) imposta pelo diretor, que dá ao
filme uma unidade narrativa tão absorvente quanto impactante.
Diante da excelência desta
obra poderosa chega a ser quase desconcertante o fato de ele hoje ser tão
desconhecido do público.
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