sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

A Chegada

É certamente entre os grandes que por fim se coloca Denis Villeneuve neste seu mais recente e extraordinário trabalho.
Vindo daquele ramo da ficção científica onde os paradigmas do gênero servem para refletir as mais imponderáveis questões em torno da condição humana, “A Chegada” é mais uma contribuição impecável e imprescindível de um realizador que a cada projeto se mostra ímpar à uma lista a qual já não faltam títulos memoráveis: Kubrick e seu “2001”, Tarkovski e seu “Solaris”, Spielberg e seu “Contatos Imediatos do Terceiro Grau”, Zemeckis e seu “Contato”, Nolan e seu “Interestelar”.
Todos arriscam uma visão muito particular –plena de consciência técnica –sobre as elucubrações plausíveis da grande aventura humana, sob a ótica de nosso possível primeiro encontro com vida inteligente e consciente.
É nesse absurdo redemoinho de reviravoltas existenciais que é arremessada Louise Banks (Amy Adams, pronta para um Oscar de Melhor Atriz!), uma professora especialista em lingüística que, como toda a humanidade, é pega de surpresa com a aparição de 12 estranhas naves alienígenas em locais aparentemente estratégicos ao redor do mundo.
Para estabelecer contato com os ocupantes de uma delas (aquela que se acha nos EUA), ela é requisitada por um arredio e preocupado coronel do exército (grande presença de Forest Whitaker), ao lado de um cientista (Jeremy Renner, ótimo).
O processo de comunicação com os alienígenas é lento, frustrante e tenso –sobretudo, tenso: O grande perigo, logo fica claro, não são os supostos “invasores”, mas sim a própria humanidade –divergindo entre si, as nações do mundo têm diferentes idéias de como tratar os visitantes. E algumas delas, como a China, a Rússia e o Sudão, preferem a hostilidade à diplomacia.
Embora todos esses embates, filosóficos ou logísticos, sejam primorosamente filmados por Villeneuve (contando com uma equipe técnica primordial, em especial, a trilha sonora de Jóhan Jóhannsson e a fotografia de Bradford Young) é a inesperada jornada íntima da personagem de Adams que irá revelar-se o grande trunfo de “A Chegada”.
A partir daí, Villeneuve questiona a percepção de realidade, numa postura que começa semelhante à de Andrei Tarkovski em “Solaris” –quando o contato com algo de outro mundo parece suscitar lembranças dilacerantes de um ente querido que se foi –mas, que revela-se surpreendente conforme a narrativa avança.
Sem revelar demais, é tão emocionante que chega a ser doloroso.

Por isso, por esse insuspeito encontro de uma emoção tão plena com um cinema tão espetacularmente irrepreensível que promove, pela comprovação do mestre inquestionável que Villeneuve é, e por mostrar, à partir disso, um pouco de fé, nos claudicantes passos que, como humanidade, buscamos dar nesta terra, “A Chegada” é, até aqui, o grande filme de 2016.

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