sábado, 10 de dezembro de 2016

O Que Fazemos Nas Sombras

Nada como uma comédia excelente para passar a noite, e este trabalho dos diretores Jemaine Clement e Taika Waititi (também eles membros do elenco como veremos mais à frente) é dos melhores dos últimos tempos.
Por meio do mesmo formato narrativo usado em reallity shows como “Keep Up The Kardashians” –a câmera mostra o dia a dia dos protagonistas acrescido de seus ocasionais comentários pessoais –a história acompanha, desta vez, quatro vampiros que vivem na mesma casa: o sensível e diletante Viago (Taika Waititi), o desleixado Deacon (Jonny Brugh), o rude e hilário Vladislav (Jemaine Clement) e o arcaico e assustador Petyr (Ben Fransham).
À eles, mais tarde, se junta um vampiro recém-transformado: O sem noção e ocasionalmente mala sem alça Nick (Cori Gonzalez-Macuer).
Todos são, com salutar e engraçada evidência, ainda que sem qualquer necessidade de cópia, exemplares das versões mais famosas de vampiros retratados no cinema –Viago, por exemplo, na pele do co-diretor Waititi faz lembrar Lestat (de “Entrevista Com O Vampiro”), com seus modos anacrônicos de dândi e seus figurinos cheios de babados; Deacon seria a versão mais conhecida de Drácula (aquele interpretado por Bela Lugosi), embora agregue elementos de muitos outros, como os vampiros mundanos de “Quando Chega A Escuridão”; Vladislav, interpretado pelo outro co-diretor, Clement, é (ou melhor, tenta ser) a versão exuberante e indomável concebida por Francis Ford Coppola em “Drácula de Bram Stoker”; Petyr é inconfundivelmente baseado no “Nosferatu”, de Murnau –e sua inadequação com a atualidade e mesmo com seus próprios pares é um dos divertimentos do filme –por fim, Nick (como se pode perceber na chacota constante que ele sofre dos outros) é inspirado nos vampiros mais modernos de “Crepúsculo” –e, na qualidade de expectador dos tempos de hoje, ele chega a citar o filme em um dado momento!
Divertido e saboroso como não se via num “mockumentary” (o chamado ‘falso documentário’) desde “This Is Spinal Tape”, o filme registra em pequenos e hilários detalhes a condição ridícula dos vampiros nos tempos atuais: Sair à noite caçar significa, para eles, experimentar inesperadas frustrações já que precisam ser convidados para entrar em qualquer lugar –e ninguém os convida! Entre outras coisas são mostradas também as tentativas desajeitadas de Viago em manter o chão de casa limpo a despeito da sangueira que seus ataques provocam, a nostalgia de Vladislav a relembrar os tempos em que empalava pessoas e tinha muito mais poder (sua explicação do porque procuram por sangue de virgens é hilária!), os aborrecimentos enfrentados por eles –cujo reflexo nunca aparece em espelho nenhum –quando tentam arrumar-se para sair, e não têm idéia da aparência com a qual estão (!) e a conflituosa tentativa de conviver uns com os outros –tudo isso intercalado por depoimentos de rachar o bico de tanto rir –desnecessário dizer que o elenco como um todo possui um timing cômico impecável!
Essa demonstração irrestrita de perícia não passou despercebida da Marvel Studios que já tratou de contratar o diretor Taika Waititi para conduzir seu novo “Thor-Ragnarok”. A julgar pelo resultado brilhante que ele consegue obter aqui, o deus do trovão da Marvel deve ganhar uma produção que irá alçar seus filmes ao mesmo alto nível das produções protagonizadas pelo Capitão América.

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