Vez ou outra, o cinema nacional se aventura no
cinema de gênero com bons resultados.
Zé do Caixão está aí para provar isso!
No entanto, costuma ser desfavorável a
comparação de muitos desses exemplares com os comercialmente bem lapidados
produtos norte-americanos, dos quais nosso público possui largo consumo. É um
pouco desse problema que padece este extremamente simpático “Ponte Aérea” que
não descuida de um quesito quase imprescindível para esse tipo de filme
inapelavelmente romântico: Um casal central absolutamente simpático, homogêneo
e carismático.
Ela (a pra lá de deliciosa Letícia Colin) é
Amanda. Ele (o competente Caio Blat) é Bruno.
Ela é de São Paulo. Ele, do Rio de Janeiro.
E aí já se estabelece o pequeno conflito com o
qual todo enredo romântico cisma em opor à história de amor: Aqui o grande
empecilho para a concretização do romance é o fato, não somente geográfico dos
dois morarem a 400 quilômetros de distância, mas também as diferenças culturais
e comportamentais relativas entre paulistas e cariocas, o quê o roteiro tem por
intenção utilizar tanto em seu humor (mais discreto), quanto em seu drama (bem
mais ressaltado). É gracioso, embora quisesse ser ferino, lembra muito o filme
americano independente “Loucamente Apaixonados”, com Felicity Jones e Anton
Yelchin, sobre um jovem casal tentando manter um relacionamento transatlântico
–ela é inglesa, ele é norte-americano.
Não é somente à esse filme que “Ponte Aérea”
remete: São vastas as referências que vão desde “Encontros e Desencontros”
(numa das cenas iniciais, por exemplo, a câmera enfoca o belo traseiro de
Letícia Colin de maneira muito semelhante à primeira cena, com Scarlett
Johansson, daquele filme), “Basquiat-Traços de Uma Vida” (por ela ser diretora
de arte, o artista é mencionado num momento do filme, mas o quê aparece, no
lugar de uma obra sua, é o pôster do filme sobre ele, dirigido por Julian
Schnabell), “Sabrina” (para muitos, a quintessência da comédia romântica, que
aparece passando na TV em um cena), e até Federico Fellini (cujo famoso
sobrenome batiza o gato da protagonista), entre outros.
Claro que existem problemas, como as marcações
preguiçosas e as encenações limitadas que parecem mais evidentes na decupagem
de um filme nacional. A própria natureza romântica do roteiro expõe uma timidez
quase constrangedora na construção de alguns diálogos e situações,
especialmente no terço inicial antes da trama de fato engrenar.
Apesar disso, “Ponte Aérea” é um trabalho
coerente e competente, ilustrativo da capacidade notável que os atuais artesãos
de cinema no Brasil possuem. Claro que não tem o brilhantismo do cinema
argentino, por exemplo, mas ele permite notar uma evolução absurda desde o
visível amadorismo nos trabalhos da fase da Retomada.
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