segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

A Origem

E chegou então a hora de falar sobre o filme que virou um fenômeno no ano de 2011, e que na opinião de muitos é o único capaz de rivalizar com “Batman-O Cavaleiro das Trevas” como melhor filme da filmografia de Christopher Nolan.
“A Origem” guarda mesmo elementos de sobra para manter seu fascínio perene. A começar pelo notável (e, em princípio, intrigante) personagem de Leonardo Dicaprio, o torturado Dom Cobb, um ladrão de sonhos!
Sua especialidade é infiltrar-se na mente de certas pessoas enquanto dormem (através de uma tecnologia nunca, de fato, detalhada pela narrativa), e dentro de seus sonhos, roubar-lhes segredos e informações valiosas –e aí, mais do que o processo fantástico pelo qual se dá a ida para o mundo dos sonhos, é no rigoroso conjunto de fatores, regras, condições e pequenos detalhes que está o verdadeiro ponto de interesse da narrativa de Nolan.
Uma vez dentro dos sonhos existe toda uma cadeia de importâncias a ser respeitada e seguida: Se morrer no sonho, a pessoa desperta. O subconsciente pode oferecer perigo para o sonhador e seus “turistas”. Há uma forma específica de saber se você está sonhando ou não (e isso diz respeito aos “totens”). O tempo, no sonho, corresponde a um período muito breve na nossa realidade.
Tal arte, aparentemente, Dom Cobb domina como poucos.
Entretanto, em sua vida desperta Cobb é um homem torturado, afastado de seus filhos (que moram com o avô interpretado por Michael Caine) e injustamente acusado da morte da mulher que ama (Marion Cotillard, uma femme fatale extraordinária, que surge nos seus sonhos como um elemento tão sensacional quanto desestabilizador).
É quando surge então um milionário chamado Saito (o brilhante Ken Watanabe, com um personagem tão essencial à trama quanto Dicaprio), com uma proposta irrecusável: ter seu nome inocentado em troca de uma última missão. Só que desta vez, ao invés de tirar informações, ele deve inserir uma idéia numa determinada mente, o quê é muito mais difícil, talvez impossível.
Cobb monta uma nova equipe para essa arriscada tarefa –Arthur, seu braço direito, vivido por Joseph Gordon-Levitt, um “falsificador” (capaz de personificar diferentes personagens dentro do sonho) interpretado por Tom Hardy, um “arquiteto” (aquele que constrói o elaborado cenário dentro do qual o sonho irá se passar) na pele da jovem Ellen Page (de “Juno”), e um “químico” (que administra os efeitos do sedativo que fará a vítima dormir), vivido por Dileep Rao –afinal a mente humana (incluindo a do próprio Cobb) é um lugar desconhecido e cheio de armadilhas e a "inserção" requer um plano complexo.
É patente, como se pode perceber, que Nolan gosta de mesclar gênero que ele tem por inspiração –os filmes de assalto popularizados nos anos 1960, neste caso –e à eles conceder uma roupagem fantástica e, não raro, mirabolante. As influências cinematográficas de Nolan surgem quanto não se espera: Imagina-se que ele vá fazer alusão a algum grande diretor, ou grande filme, que tenha por base o mundo dos sonhos, como David Lynch, mas essas relações só aparecem por acaso; “A Origem”, em sua concepção desconcertante, busca remeter a obras como “O Golpe de John Anderson” (na sua estrutura de filme de assalto), ou “007 Na Mira dos Assassinos” (na forte referência que envolve cenas de ação na neve). Nota-se então o gênero a que “A Origem” quer realmente pertencer e aprimorar: A ação.
E a direção de Nolan dedica minucioso aparato de técnica e inventividade a fim de moldar cenas de ação singulares: Sendo a luta em gravidade zero provavelmente seu exemplo mais exuberante.
É o desfecho, contudo, que garante ao filme sua permanência na memória: Quando Cobb, redimido e prestes a reaver os filhos, tenta usar seu próprio “totem” (um pequeno peão que gira indefinidamente quanto é sonho, e para logicamente de girar quando é realidade), a fim de garantir se o que está se passando é real ou não. As crianças o chamam, e ele por fim ignora o peão que roda sem parar. A câmera de Nolan permite que seu protagonista vá embora, fixando-se no peão (e na expectativa de que ele logo caia), mas desafia o expectador, encerrando o filme antes de qualquer resposta.
Está aí o fator que fez de “A Origem” um dos filmes mais discutidos de 2011.

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