segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Operação Xangai

Na época da realização deste filme, Gong Li já era uma estrela absoluta na China (e a mais reconhecida atriz chinesa no resto do mundo), e Zhang Ymou já tinha uma carreira definida pela consagração de grandes filmes nos quais abordava a esmagadora tendência do sistema em subjugar as eventuais parias (muitos desses filmes, com a própria Gong Li).
Durante a realização de “Operação Xangai”, portanto, temos não só dois grandes artistas em pleno domínio de seu ofício, como também celebridades estabelecidas a discorrer sobre uma premissa da qual eles mesmos já realizaram grandes trabalhos.
Esses dois aspectos por vezes colidem na percepção artística que provém desta obra, e talvez por isso haja algo de redundante na trama de um garoto que, ao trabalhar para um temido gangster na China dos anos 1930, torna-se serviçal de sua amante, a cantora mais cobiçada de toda a cidade de Xangai (a belíssima Gong Li demonstrando extraordinária versatilidade nos números musicais).
Esse deslumbre provocado por Gong Li –somado à sua beleza cuja personagem proporciona a ela uma moldura de glamour até então inédita entre os trabalhos de Ymou –é, ao lado da técnica impecável do diretor, a grande força de “Operação Xangai”.
Paradoxalmente, a grande fraqueza do filme provém, também ela, de sua atriz e de seu diretor: Gong Li exala tanto carisma que depõe contra o próprio protagonista da trama (o jovem –e inexperiente demais –Wang Xiaoxiao), e chega um ponto em que até o roteiro o negligencia, exatamente quando o próprio diretor, em suas inclinações políticas e dramáticas (que em algum momento se fundem e se confundem) dá rumos frustrantes à trama.
Mas isso, talvez, seja reclamar demais quando se tem à disposição uma direção de fotografia primorosa como a que Lu Yue entrega neste filme (sua única indicação ao Oscar) –o elemento visual, aliás, costuma responder como os grandes destaques nas obras de Ymou. E é, sobretudo, o fato de haver tantos exemplares magistrais e memoráveis (como “Sorgo Vermelho”, “Amor e Sedução”. “A História de Qi-Ju” e “Lanternas Vermelhas”) que faz a comparação com este trabalho um pouco menor, um pouco mais discreto e disperso, um pouco mais resignado a um certo gênero e a um comodismo, parecer tão assim desfavorável.

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