Na época da realização deste filme, Gong Li já
era uma estrela absoluta na China (e a mais reconhecida atriz chinesa no resto
do mundo), e Zhang Ymou já tinha uma carreira definida pela consagração de
grandes filmes nos quais abordava a esmagadora tendência do sistema em subjugar
as eventuais parias (muitos desses filmes, com a própria Gong Li).
Durante a realização de “Operação Xangai”,
portanto, temos não só dois grandes artistas em pleno domínio de seu ofício,
como também celebridades estabelecidas a discorrer sobre uma premissa da qual
eles mesmos já realizaram grandes trabalhos.
Esses dois aspectos por vezes colidem na
percepção artística que provém desta obra, e talvez por isso haja algo de
redundante na trama de um garoto que, ao trabalhar para um temido gangster na
China dos anos 1930, torna-se serviçal de sua amante, a cantora mais cobiçada
de toda a cidade de Xangai (a belíssima Gong Li demonstrando extraordinária
versatilidade nos números musicais).
Esse deslumbre provocado por Gong Li –somado à sua beleza cuja personagem proporciona a ela uma moldura de glamour até então
inédita entre os trabalhos de Ymou –é, ao lado da técnica impecável do diretor,
a grande força de “Operação Xangai”.
Paradoxalmente, a grande fraqueza do filme provém,
também ela, de sua atriz e de seu diretor: Gong Li exala tanto carisma que depõe
contra o próprio protagonista da trama (o jovem –e inexperiente demais –Wang
Xiaoxiao), e chega um ponto em que até o roteiro o negligencia, exatamente
quando o próprio diretor, em suas inclinações políticas e dramáticas (que em
algum momento se fundem e se confundem) dá rumos frustrantes à trama.
Mas isso, talvez, seja
reclamar demais quando se tem à disposição uma direção de fotografia primorosa
como a que Lu Yue entrega neste filme (sua única indicação ao Oscar) –o elemento
visual, aliás, costuma responder como os grandes destaques nas obras de Ymou. E
é, sobretudo, o fato de haver tantos exemplares magistrais e memoráveis (como “Sorgo
Vermelho”, “Amor e Sedução”. “A História de Qi-Ju” e “Lanternas Vermelhas”) que
faz a comparação com este trabalho um pouco menor, um pouco mais discreto e
disperso, um pouco mais resignado a um certo gênero e a um comodismo, parecer tão
assim desfavorável.
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