Dentre os grandes autores de cinema chineses a
surgir em meados dos anos 1980 e 90, Chen Kaige é aquele que preservou a verve
mais transgressiva.
Nesse sentido, uma das obras mais emblemáticas
dele é o premiado “Adeus, Minha Concubina” que dividiu em 1993, a Palma de Ouro
em Cannes com “O Piano”.
Politizado, tal e qual seu conterrâneo Zhang
Ymou (de quem emprestou a habitual atriz Gong Li para este filme), mas disposto
a falar sobre meandros ainda mais espinhosos e delicados, ele lança um olhar
tão revelador quanto desconcertante sobre as práticas artísticas da China (onde
meninos orfãos eram instruídos a se adequar forçadamente aos papéis –inclusive
os femininos! –que lhes eram designados para as apresentações teatrais),
durante o convulsivo período dos anos 1960 e 1970 (a Revolução Cultural da
China), onde transformações políticas radicais transformaram as índoles de
vários cidadãos.
Na realidade, pode-se dizer que Chen Kaige
dedicou sua filmografia a registrar de maneira incansável as variações humanas
ocasionadas pelos dilemas que nasceram nesse território.
Seus personagens, o fanfarrão Douzi (Leslie
Cheung) e o sensível Shitou (Zhang Fengyi), a quem eram reservados os papéis
femininos, traçam uma longeva carreira de apresentações da peça “Adeus, Minha
Concubina”, desde quando se conheceram ainda meninos, em 1925, na Academia de
Teatro, até as apresentações festejadas, já durante a década de 1960, quando a
presença da prostituta Juxian (Gong Li, embriagante) cria um triângulo amoroso,
desestabilizando a amizade dos dois.
Essa visão de específica peculiaridade lançada
sobre a política e a homossexualidade acarretou ao filme e ao seu realizador
uma série de proibições na China, onde as autoridades consideraram negativa a
postura de Kaige em relação ao seu país.
Mas, ele por vezes se abstém de fazer tratados
políticos. O objetivo de Chen Kaige, enquanto contador de histórias é mais
íntimo: Quando jovem, durante a Revolução de Mao, ele –que serviu como guarda
vermelho –chegou a denunciar o próprio pai, o cineasta Chen Huaikai.
Adulto, ele conscientizou-se do ato imensamente
prejudicial que cometeu durante os rompantes da juventude, daí a ser
profundamente pessoal a maneira como sua narrativa entende os sentimentos
absolutamente conflitantes de um de seus personagens, quando a narrativa toma
um rumo assim muito parecido.
Nos filmes de cunho
político que moldou ao longo da carreira –e no tom quase sempre de voraz
perplexidade com que flagra esses dramas humanos –Chen Kaige buscou, mais que
tudo, pedir perdão: Seu pai é diretor de arte em “Adeus, Minha Concubina”.
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