Refilmagem (ou reinvenção, como queiram) de uma
das produções pioneiras da sétima arte. Comprado pela Fox Searchlight ainda no
Festival de Cinema Independente de Sundance por um valor recorde para a
distribuição no circuito comercial. Considerado um dos pré-candidatos favoritos
a concorrer e ganhar muitos Oscars na cerimônia de 2017 (o quê não se
concretizou devido às acusações de estupro de seu realizador o ator e diretor
Nate Parker).
Mas, afinal de contas, “O Nascimento de Uma Nação”
é um filme que faz jus ao alarde inicial que ele suscitou?
Pode-se dizer que não: Está longe de ser um
trabalho de primeira grandeza, embora tenha sim seus méritos.
Para quem não sabe, “O Nascimento de Uma Nação”,
de 1915, dirigido por D. W.Griffith, foi um filme fundamental ao estabelecer as
primeiras experimentações de natureza narrativa através do cinema. Em igual
proporção ao seu valor enquanto forma de expressão artística era também a
controvérsia negativa que sua premissa provocou: A trama, de uma inocência
absurdamente vulgar, relatava uma insurreição de negros diabólicas contra uma
comunidade do sul, rechaçada por benevolentes cavaleiros brancos, a Ku Klux
Khan.
Uma obra, portanto, de teor racista,
tendencioso e nauseante, não obstante sua importância para com a arte
cinematográfica.
Em 2016, o diretor-roteirista-produtor e ator
principal, Nate Parker lançou assim uma nova versão do mal fadado clássico, sob
um prisma inverso: Privilegiando e evidenciando o ponto de vista dos escravos
rebelados, amparando-se num episódio real, o levante organizado pelo escravo e
pregador Nat Turner, que acarretou a morte de dezenas de proprietários de
escravos, pouco antes da eclosão da Guerra Civil Americana –episódio no qual, a
propósito, o filme de Griffith não se inspirava.
O próprio Nate Parker interpreta Nat Turner,
escravo de uma família sulista que tinha a vantagem de saber ler e escrever, o
quê levou-o a se tornar pregador religioso depois de adulto. Diversos donos de
escravos da região passaram então a valer-se do dom de oratória de Nat para
contratá-lo perante seu senhor, o jovem e perturbado Sam (Armie Hammer), para
que Nat preguasse evangelhos apaziguadores entre os escravos, tornando-os mais
dóceis e subservientes.
Nessas “peregrinações”, Nat se deparou com uma
realidade tão dura quando ultrajante, o quê logo fomentou nele uma necessidade
de insurgir contra tal opressão.
Sua revolta organizada inicialmente entre oito
escravos, mas que logo ganhou novos e numerosos adeptos, durou 48 sangrentas
horas até que foram exterminados pelo exército e Nat Turner, após uma breve
perseguição, enforcado.
Há toda uma imponência e solenidade no trabalho
desenvolvido por Parker. Como ator, especialmente, seu comprometimento é louvável,
e em sua direção ele estende esse sentimento para o resto do elenco. Sua condução,
entretanto, não tem o vigor necessário para abraçar as facetas nada simples de
um projeto como este. Falta-lhe o senso de observação artístico que Steve
McQueen ostentava em “12 Anos de Escravidão”, por exemplo, assim como a noção
de ritmo, atmosfera e lógica de um Spielberg em “Lincoln”.
Essa indecisão entre ser cinema de arte ou
cinema comercial sabota o filme: Parker se mostra negligente em seu ritmo
durante boa parte da trama, embora ele se faça fundamental em sua meia hora
final. Ele também parece evitar uma postura autoral na composição das cenas,
mirando uma platéia mais ampla para seu trabalho, embora seu teor independente
pareça pedir por algo assim todo o tempo.
Talvez, sejam as expectativas alimentadas por
este projeto desde antes de seu lançamento, os grandes responsáveis pela maior
atenção aos seus erros do que aos seus acertos –e tais acertos também existem.
A verdade é que essa
percepção algo equivocada e falha já existia antes disso tudo: Na ambição e
pretensão de seu realizador.
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