“Se tudo é imperfeito, neste mundo imperfeito,
então, o amor é perfeito na sua imperfeição.”
A mais famosa obra de Ingmar Bergman tem hoje
seus elementos antológicos tão entranhados na cultura pop que muita gente reconhece
de imediato a imagem da Morte (alguém trajado de um capuz negro, monocromático
com uma foice nas mãos) sem sequer jamais ter visto (ou ouvido falar) do filme.
É um trabalho bastante diferente das obras
habitualmente mais formais e mais conceituais de Bergman –delas guarda
basicamente um senso agudo de alegoria e a discussão, sempre presente na obra
do diretor sueco, a respeito do silêncio divino, e das inquietações
irreprimíveis que impelem a ideologia do homem.
Palco para tal reflexão, a Inquisição serve
para que Bergman coloque em foco a intolerância inerente ao ser humano, e
justaponha sua existência como um dos gatilhos inevitáveis para muitas das
tragédias tidas por irreversíveis no que tange ao estado de todas as coisas.
É o Século XIV, o cavaleiro Antonius Block (Max
Von Sydow, esplêndido) então em regresso a sua terra-natal após um década árdua
de batalha nas Cruzadas, depara-se com os horrores da Peste Negra. A morte em
pessoa (materializada na figura lúgubre e absolutamente icônica do ator Bengt
Ekerot) lhe aparece, afirmando ter chegado sua hora.
O cavaleiro, contudo, tem perguntas ainda não
respondidas e propõe à Morte uma partida de xadrez a fim de protelar seu
derradeiro momento, enquanto dá continuidade à sua peregrinação por seu país,
ladeado pelo escudeiro ateu, Jöns (Gunnar Björnstrand).
Assolados pela fome e pela peste, os lugares
que Antonius visita têm, portanto, a Morte como presença assídua e constante, o
quê parece inferir nos homens uma crueldade inata, manifestada em rituais ideologicamente
justificados, mas humanamente absurdos como a queima de mulheres –tidas por
bruxas –nas fogueiras.
Em meio a tudo isso, um casal mambembe de
artistas de circo (Nils Pope e Bibi Anderson), aparenta ser um alento solitário
de alívio e inocência nesse cenário desesperador.
A parábola de Bergman ganha imensa força em seu
desfecho poderosamente aberto à distintas interpretações, inclusive, na maneira
com que o diretor conduz as diferentes reações de seus personagens expondo uma
diversidade de conceitos e as formas com que lidam com uma crença (ou a
inexistência dela).
Menos seco e cruel do em “A
Fonte da Donzela”, por exemplo (na verdade, menos seco e cruel do que quase
toda a filmografia restante de Bergman),”O Sétimo Selo” se impõe como um
tratado filosófico brilhante e inesquecível sobre incontornáveis conceitos da
vida.
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