segunda-feira, 20 de março de 2017

Os Chefões

Abel Ferrara chega a parecer, em “Os Chefões”, uma versão mais modesta e menos suntuosa de Francis Ford Coppola (“O Poderoso Chefão”), Sergio Leone (“Era Uma Vez Na América”), ou até mesmo Martin Scorsese (“Caminhos Perigosos” e “Os Bons Companheiros”), influências das quais seu trabalho tira muito emprestado.
E, talvez, por sua natureza ítalo-americana, seu registro gangster das angústias que remetem a tradições cuja cultura está do outro lado do oceano, é notável, até mesmo a restrição orçamentária comum ao tipo de cinema independente que Ferrara realiza nos anos 1990 lhe confere charme.
Nesta obra cheia de personalidade, a vida tumultuada de três irmãos envolvidos com negócios escusos da máfia –o mais velho e austero Ray (Christopher Walken), o imprevisível Chez (Chris Penn, em grande atuação), e o mais jovem e inconseqüente Johnny (Vincent Gallo) –é colocada em perspectiva durante o funeral deste último, que foi assassinado.
O universo mafioso da década de 1930 é descortinado com ênfase nas entrelinhas mais viscerais, nos personagens que disfarçam psicopatia com requinte (além de Chris Penn, chama muito a atenção a composição de Benicio Del Toro, antes do Oscar por “Traffic”, para um coadjuvante de muita relevância) e nos comportamentos propensos à auto-destruição, uma característica que desperta especial interesse em Ferrara (algo que ele compartilha com o diretor alemão Werner Herzog. Não foi, definitivamente, por acaso, que Herzog quis, portanto, refilmar um dos mais cultuados trabalhos de Ferrara, “Vício Frenético”, mas essa é uma outra história...).
O diretor Abel Ferrara investiga, com pompa e circunstância, as trajetórias mundanas de crime e castigo fazendo a narrativa oscilar no tempo e intercalar variados e complementares flashbacks, sempre acrescentando em sua obra os simbolismos religiosos –essencialmente católicos –que pontuam sua filmografia.

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