quarta-feira, 21 de junho de 2017

Indiana Jones e A Última Cruzada

A primeira trilogia de filmes de Indiana Jones é de um primor raro de ser igualado no cinema –por isso mesmo, não incluo nesse comentário o quarto filme, realizado muitos anos depois...
Isso se deve porque Steven Spielberg foi extremamente cuidadoso na realização do terceiro filme: Ao mesmo tempo em que ele enxergava com singular admiração o resultado obtido pelo primeiro filme, “Caçadores da Arca Perdida”, no panorama de sua filmografia, ele também lamentava sua insatisfação pessoal para com o resultado final do segundo filme, “Indiana Jones e o Templo da Perdição” (embora muitos fãs também o apreciem).
Assim sendo, quando iniciou, em 1988, os preparativos para a realização do terceiro filme estrelado pelo arqueólogo aventureiro, Spielberg não poupou esforços para aproximar-se mais do tom, ritmo e atmosfera do primeiro filme, evitando ao máximo o clima sombrio e pesado do segundo: Retornou o personagem de Denholm Elliot, aqui quase um alívio cômico, e retornaram também os nazistas como vilões principais, entre outras similaridades.
O prólogo do novo filme também trazia o esboço de uma “origem do herói” e, a partir disso, uma melhor ilustração de sua vida familiar (mais precisamente o pai de Indiana Jones), o que abriu espaço para a referência primordial de Spielberg: O pai de Indiana, Prof. Henry Jones, foi interpretado por Sean Connery, primeiro intérprete de James Bond, justamente a reconhecida inspiração de Spielberg para criar o arqueólogo.
Sean Connery vive assim o pai de Indiana Jones tanto em termos figurativos como em termos literais.
O começo de “A Última Cruzada” é delicioso, quando vemos um Indiana ainda adolescente (e escoteiro!) dando os primeiros passos em direção ao aventureiro que viria a ser –e, neste trecho, magnificamente interpretado pelo saudoso River Phoenix, que viveu o filho de Harrison Ford em “A Costa do Mosquito”.
Esse início, diga-se, serviu de inspiração para que o produtor George Lucas fizesse uma experiência televisiva com a série “O Jovem Indiana Jones” –que não chegou a vingar.
Passado esse sensacional prólogo, a narrativa salta para o ano de 1938. O arqueólogo Dr. Henry Jones Jr. (mais uma vez Harrison Ford), conhecido como Indiana Jones, auxiliado pela bela e misteriosa Dra. Elsa Schneider (Alison Doody, uma beldade e que –veja só –foi bondgirl em “007-Na Mira dos Assassinos”!) e pelo velho colega Prof. Marcus Brody (Denholm Elliot), parte em busca do Santo Graal –um novo ‘mcguffin’ que não consegue ser tão preciso quanto a Arca da Aliança, mas cumpre seu objetivo.
Primeiro, contudo, Indiana tem que resgatar seu pai, o Prof. Henry Jones (Sean Connery, divertidíssimo em sua fleuma britânica) das mãos dos nazistas, também sequiosos pelo mítico objeto, pois, na condição de respeitado estudioso da época medieval (desempenho que por vezes levou-o a negligenciar seu filho  na infância), ele possui os instintos mais capazes para levá-los até os indícios sobre o paradeiro do cálice sagrado.
E pronto: Como tornou-se habitual nesta trilogia, Spielberg elabora sucessivas cenas magistrais onde entrega uma combinação rara de ação bem conduzida e bem filmada, registro cinematográfico de caráter artístico e espetáculo carismático –a seqüência em que Jones, pai e filho, fogem em disparada de soldados alemães montados numa moto; a perseguição insana de Indiana e seu pai pelos nazistas, começando num dirigível, indo para um aviãozinho b-17, e terminando nas rodovias européias a bordo de um conversível (!); a espetacular cena sobre um tanque alemão que atravessa todo o deserto; e, por fim, a genial resolução dos três desafios que Indiana Jones deve encarar para obter o Santo Graal, todas elas de uma criatividade incomum no cinema comercial norte-americano.
“A Última Cruzada” foi claramente concebido como uma despedida do personagem (não foi, como muitos anos depois pudemos conferir...), e coroou a “Trilogia Indiana Jones” com mais um exemplo impecável de filme de aventura.

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