quarta-feira, 21 de junho de 2017

Os Eleitos - Onde O Futuro Começa

Após um início quase lúdico, onde podem ser vistos registrados os duros percalços da tentativa (bem-sucedida) do piloto aéreo Chuck Yeager (Sam Sheppard) em quebrar a barreira do som em 1947, este épico do diretor Philip Kaufman adota uma irônica narrativa hiper-realista (com notável aproveitamento de imagens documentais da época em sua edição) para acompanhar os primórdios tortuosos –e inacreditavelmente precários –do Programa Mercury, a primeira iniciativa norte-americana na Corrida Espacial disputada com os russos, e que levou (após uma longa bateria de testes sobre-humanos) alguns dos primeiros astronautas ao espaço, culminando com a seleção de sete homens predispostos a serem os primeiros americanos a aventurar-se para além do planeta.
Eram eles: Donald Slayton (Scott Paulin), Scott Carpenter (Charles Frank), Walter Schirra (Lance Henriksen), Alan Sheppard (Scott Glenn), enviado na primeira espaçonave a decolar com um cidadão americano em direção ao espaço, Gus Grisson (Fred Ward), piloto do vôo seguinte, John Glenn (Ed Harris), o primeiro a realizar um vôo espacial tripulado, e Gordon Cooper (Dennis Quaid), o último vôo solitário em órbita ao planeta, que marcou o encerramento do Programa Mercury em 1963, substituído pelo Programa Apollo.
Apesar do exuberante aparato técnico –que poderia perfeitamente ter sido sobrepujado por filmes que vieram depois, como “Apollo 13”, mas, não foi –o grande achado deste filme belíssimo é a maneira à um só tempo terna e sarcástica com que consegue elaborar um amplo painel do quê foi a Corrida Espacial Norte-Americana, com ênfase em percalços humanos e mundanos, vaidades, disputas e expectativas; inclusive jogando uma luz justa e emocionante sobre as esposas e famílias dos astronautas, e suas aflições íntimas dos mais diferentes níveis (como a esposa de John Glenn, que recusava-se a dar entrevistas para indignação da mídia que desconhecia o fato dela ser gaga!).
Há ainda espaço para as manobras políticas freqüentemente mesquinhas e tacanhas –as duas participações do então vice-presidente Lyndon B. Johnson (Donald Moffat) são tão patéticas quanto memoráveis! –para os engenheiros e operários da NASA e suas inúmeras deliberações e confusões e até mesmo para os funcionários encarregados do marketing, insuflados e ao mesmo tempo perplexos com sua extenuante disputa velada com os russos.
Por isso, e pela decisão genial em conceder carinho a cada uma dessas facetas do filme, esta produção maravilhosa atinge três horas de duração –que, eu lhe garanto, vão passar como se fosse uma brisa!
Phillip Kaufman faz uma bela síntese entre a mitologia altiva e reluzente que cerca os astronautas –em muitos aspectos, igualados aos cowboys do Velho Oeste –e as perplexidades do homem comum, num trabalho pontuado por divertido humanismo e irrestrita excelência técnica.

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