quinta-feira, 13 de julho de 2017

A Viagem do Capitão Tornado

“Não chore. Guarde as lágrimas para o palco. Porque lá, no palco, mil vezes irá chorar. Mil vezes irá rir. E mil vezes renascerá.”
Das mais diversas formas e ângulos, o maravilhoso filme do diretor Ettoe Scola compõe uma apaixonada homenagem ao teatro: Suas sequências executadas com entradas e saídas de cena pontuadas por significado dramático, sua encenação superficialmente cativante –com cenários externos recriados artesanalmente em estúdio –e a própria orientação da história, pontuada inclusive de encontros e desencontros de amor (como nas peças populares daquela época) que acompanha um nobre decadente, O Barão de Sigognac, depois batizado Capitão Tornado (Vincent Pérez, num personagem que, na obra literária, era chamado de Capitão Fracasso) subitamente convencido a abraçar uma vida nômade ao lado de uma trupe de saltimbancos que visitam cidade após cidade com suas apresentações teatrais.
Entre esses saltimbancos, personagens que mobilizam os aspectos românticos, dramáticos e bem-humorados da trama: Há o fantástico Massimo Troisi (o astro falecido de “O Carteiro e O Poeta”), definitivamente roubando a cena do protagonista, como o irrequieto líder da trupe teatral que equilibra na lábia as necessidades de seu grupo, as exigências práticas e as manias distintas de cada integrante; tem também a madura e estonteante italiana Ornella Mutti como Serafina, que oferece amor como uma forma de atenuara angustiante realidade; assim como Isabella, (a encantadora francesa Emmanuelle Béart) cuja juventude e imaturidade levam a enxergar o próprio amor por um viés angustiante –as duas representam, não extremidades opostas do triângulo amoroso que formam com o sortudo protagonista, mas complementos existenciais uma da outra, nessa dança afetiva embevecida de romantismo -e o pai de Isabella (Toni Ucci), para quem o teatro é mais que uma forma de arte –é a razão pela qual respire e vive!
Existem outros personagens mais, em geral, arquétipos oriundos das próprias tramas de teatro do período, num recurso que une referência, reverência e metalinguagem.
Juntos, eles protagonizam uma trama de altos e baixos, de tragédia e de comédia, profundamente emblemática –e com irresistível sabor de parábola –para com a própria atividade que exercem: O teatro, por meio do qual as mais variadas histórias são contadas, levando alegria, alívio, reflexão e ternura à cada uma das cidades em que se apresentam. E, na sua consciência humanista e lírica da própria condição de contador de histórias, Ettore Scola salienta, neste filme lindo e singular, tudo que faz o teatro fascinante e compartilha, por meio do cinema, essa satisfação como cada um de nós.
Belíssimo. Belíssimo.

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