“Não chore. Guarde as lágrimas para o palco.
Porque lá, no palco, mil vezes irá chorar. Mil vezes irá rir. E mil vezes
renascerá.”
Das mais diversas formas e ângulos, o maravilhoso
filme do diretor Ettoe Scola compõe uma apaixonada homenagem ao teatro: Suas
sequências executadas com entradas e saídas de cena pontuadas por significado
dramático, sua encenação superficialmente cativante –com cenários externos
recriados artesanalmente em estúdio –e a própria orientação da história,
pontuada inclusive de encontros e desencontros de amor (como nas peças
populares daquela época) que acompanha um nobre decadente, O Barão de Sigognac,
depois batizado Capitão Tornado (Vincent Pérez, num personagem que, na obra
literária, era chamado de Capitão Fracasso) subitamente convencido a abraçar
uma vida nômade ao lado de uma trupe de saltimbancos que visitam cidade após
cidade com suas apresentações teatrais.
Entre esses saltimbancos, personagens que
mobilizam os aspectos românticos, dramáticos e bem-humorados da trama: Há o
fantástico Massimo Troisi (o astro falecido de “O Carteiro e O Poeta”),
definitivamente roubando a cena do protagonista, como o irrequieto líder da
trupe teatral que equilibra na lábia as necessidades de seu grupo, as exigências
práticas e as manias distintas de cada integrante; tem também a madura e
estonteante italiana Ornella Mutti como Serafina, que oferece amor como uma
forma de atenuara angustiante realidade; assim como Isabella, (a encantadora
francesa Emmanuelle Béart) cuja juventude e imaturidade levam a enxergar o próprio
amor por um viés angustiante –as duas representam, não extremidades opostas do
triângulo amoroso que formam com o sortudo protagonista, mas complementos
existenciais uma da outra, nessa dança afetiva embevecida de romantismo -e o
pai de Isabella (Toni Ucci), para quem o teatro é mais que uma forma de arte –é
a razão pela qual respire e vive!
Existem outros personagens mais, em geral, arquétipos
oriundos das próprias tramas de teatro do período, num recurso que une referência,
reverência e metalinguagem.
Juntos, eles protagonizam uma trama de altos e
baixos, de tragédia e de comédia, profundamente emblemática –e com irresistível
sabor de parábola –para com a própria atividade que exercem: O teatro, por meio
do qual as mais variadas histórias são contadas, levando alegria, alívio,
reflexão e ternura à cada uma das cidades em que se apresentam. E, na sua
consciência humanista e lírica da própria condição de contador de histórias,
Ettore Scola salienta, neste filme lindo e singular, tudo que faz o teatro
fascinante e compartilha, por meio do cinema, essa satisfação como cada um de nós.
Belíssimo. Belíssimo.
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