Ainda que modesto para os padrões de seu
realizador, o megalomaníaco Cecil B. DeMille (o pioneiro diretor de "Nascimento
de Uma Nação", "Intolerância" e "Os Dez Mandamentos"),
o clássico “Sansão & Dalila” guarda todas as suas características como
contador de histórias: Sua percepção inegável de épico, seus personagens
portentosos, maiores que a vida –e, com freqüência, extraídos de um conto
bíblico –e o domínio prodigioso que ele tinha para compor um extravagante
espetáculo cinematográfico.
É assim, com tintas exultantes que DeMille
narra a trajetória de Sansão (o astro Victor Mature, numa atuação hoje
icônica), opositor carismático aos conquistadores romanos que destaca-se por
sua fé no cristianismo e por sua força descomunal em batalha. Tal força, o
próprio Sansão atribui justamente a uma dádiva de Deus.
Como é de se esperar de um homem agraciado com
tais dons, Sansão estufa o peito de vaidade. Plenamente identificada com essa
grandeza, a sensual Dalila (a notável Hedy Lammar famosa por ser a protagonista
da primeira cena de nudez do cinema, no filme "Êxtase") busca, de
início, uma aliança com Sansão, mas ele a rejeita em favor de sua irmã mais
nova (vivida por uma bem jovem Angela Lansbury). Contudo, ele a perde.
Nutrindo por Sansão amor e ódio em igual
proporção, Dalila dispõe-se a seduzi-lo, para então descobrir o segredo de sua
força (que vem a ser a extensão de seus longos cabelos) e entregá-lo aos seus
inimigos romanos.
Mas, no fundo, Dalila o ama e, mesmo estando
ele cego e escravizado, ela o ajudará a prevalecer sobre suas antagonistas,
ainda que ao fim, ambos venham a pagar um alto preço.
A exemplo de muitos filmes, cujo conhecimento
em meio ao público se deve mais pela TV do que por exibições de cinema (os
expectadores atuais, afinal, não tinham idade para terem assistido filmes como
este na época de seu lançamento, 1949), este clássico indiscutível do cinema,
realizado por DeMille, um de seus mais lendários artesões, acabou imortalizado
por inúmeras reprises televisivas, onde cai nas graças de outras gerações.
Não é à toa: Para além da
demagogia de qualquer eventual mensagem bíblica (e DeMille era hábil em
valer-se de histórias oriundas da Bíblia para criar filmes de aventura repletos
de vulgaridades, violência e reviravoltas humanamente dramáticas) este filme
possui vibrantes convulsões dramáticas, guinadas de ordem emocional e cenas
antológicas que acompanham esse frenesi de maneira momentosa e gratificante.
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