quinta-feira, 6 de julho de 2017

Um Local Muito Quente

Michael Mann. Curtis Hanson. Irmãos Coen. Lawrence Kasdan. Muitos foram os renomados cineastas contemporâneos que, ao seu modo, tentaram dar uma roupagem moderna ao film noir. À eles pode-se incluir o nome do astro e também diretor Dennis Hopper, com seu “The Hot Spot”.
O cinema de Dennis Hopper em geral caracterizava-se por excessos –a exceção é justamente o equilíbrio do filme que viabilizou sua carreira como diretor, o memorável e contracultural “Sem Destino” –refletidos quase sempre na violência e na tensão de seus trabalhos.
O noir, na perspectiva de Hopper ganha, com a modernidade, em lascívia e sordidez; elementos que ele até compartilha com outros de seus colegas que se aventuraram no gênero. Sob seu olhar, o gênero em si é convulsivo com suas próprias regras, agregando uma série de novas angústias a medida que a permissividade do tempo a que pertence determina o vislumbre das facetas brutais, desonestas e disfuncionais do seu universo.
E Hopper, neste filme, se esbalda em enumerá-las.
Ele lança mão de duas deslumbrantes atrizes que não parecem se intimidar com as cenas de nudez que o roteiro cobra delas: A morena jovem e estarrecedoramente linda Jennifer Connelly, e a loira tentadora e vulcânica Virginia Madsen.
Elas representam os dois extremos entre os quais pende o protagonista Don Johnson.
Seu personagem, Maddox, chega numa escaldante cidadezinha do sul dos EUA e logo impõe-se como bom vendedor de carros na loja do Sr. Harshaw (Jerry Hardin). Suas ambições, contudo, vão além: Ele elabora o que parece ser, em princípio, um crime perfeito; rouba o banco local durante um incêndio forjado –quando os funcionários se ausentam por serem bombeiros voluntários –e, logo depois, procura garantir que muitos o vejam salvando alguém em meio ao próprio incêndio.
Isso não o impede de tornar-se suspeito dos policiais –que são mostrados pelo roteiro com procedimentos sem nexo e descabidos –acusação da qual só consegue se livrar graças à intervenção de Dolly Harshaw (Virginia Madsen), que apesar de ser esposa de seu patrão torna-se sua amante.
A outra ponta do triângulo amoroso é Gloria Harper (Jennifer Connelly, num de seus primeiros papéis adultos e já com uma cena reveladora!), moça que o filme coloca como o perfeito oposto de Dolly –é inocente, aparentemente pura e de uma beleza quase angelical –embora ela também tenha lá seus segredos.
O diretor Hopper, assim, constrói uma teia de criminalidade, de mentiras e de segredos sórdidos a envolver seus personagens tão mais sufocante devido à ambientação abafada, ensolarada, e ao clima de luxúria que se impõe; na sua concepção, ele está levando o noir à um novo patamar, mas na realidade está apenas ousando nos aspectos gráficos que os realizadores de outrora não podiam. Seu filme carece de uma série de deficiências: A natureza de sua proposta nunca parece se harmonizar com sua moral torpe, nem tampouco com o final ambíguo e pretensamente sarcástico à que ela leva.
Consegue entreter, é verdade, mas os nomes citados no início deste texto criaram outras obras infinitamente mais relevantes do que esta.

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