Michael Mann. Curtis Hanson. Irmãos Coen.
Lawrence Kasdan. Muitos foram os renomados cineastas contemporâneos que, ao seu
modo, tentaram dar uma roupagem moderna ao film noir. À eles pode-se incluir o
nome do astro e também diretor Dennis Hopper, com seu “The Hot Spot”.
O cinema de Dennis Hopper em geral
caracterizava-se por excessos –a exceção é justamente o equilíbrio do filme que
viabilizou sua carreira como diretor, o memorável e contracultural “Sem Destino”
–refletidos quase sempre na violência e na tensão de seus trabalhos.
O noir, na perspectiva de Hopper ganha, com a
modernidade, em lascívia e sordidez; elementos que ele até compartilha com
outros de seus colegas que se aventuraram no gênero. Sob seu olhar, o gênero em
si é convulsivo com suas próprias regras, agregando uma série de novas angústias
a medida que a permissividade do tempo a que pertence determina o vislumbre das
facetas brutais, desonestas e disfuncionais do seu universo.
E Hopper, neste filme, se esbalda em enumerá-las.
Ele lança mão de duas deslumbrantes atrizes que não
parecem se intimidar com as cenas de nudez que o roteiro cobra delas: A morena
jovem e estarrecedoramente linda Jennifer Connelly, e a loira tentadora e
vulcânica Virginia Madsen.
Elas representam os dois extremos entre os
quais pende o protagonista Don Johnson.
Seu personagem, Maddox, chega numa escaldante
cidadezinha do sul dos EUA e logo impõe-se como bom vendedor de carros na loja
do Sr. Harshaw (Jerry Hardin). Suas ambições, contudo, vão além: Ele elabora o
que parece ser, em princípio, um crime perfeito; rouba o banco local durante um
incêndio forjado –quando os funcionários se ausentam por serem bombeiros voluntários
–e, logo depois, procura garantir que muitos o vejam salvando alguém em meio ao
próprio incêndio.
Isso não o impede de tornar-se suspeito dos policiais
–que são mostrados pelo roteiro com procedimentos sem nexo e descabidos –acusação
da qual só consegue se livrar graças à intervenção de Dolly Harshaw (Virginia
Madsen), que apesar de ser esposa de seu patrão torna-se sua amante.
A outra ponta do triângulo amoroso é Gloria
Harper (Jennifer Connelly, num de seus primeiros papéis adultos e já com uma
cena reveladora!), moça que o filme coloca como o perfeito oposto de Dolly –é
inocente, aparentemente pura e de uma beleza quase angelical –embora ela também
tenha lá seus segredos.
O diretor Hopper, assim, constrói uma teia de
criminalidade, de mentiras e de segredos sórdidos a envolver seus personagens tão
mais sufocante devido à ambientação abafada, ensolarada, e ao clima de luxúria
que se impõe; na sua concepção, ele está levando o noir à um novo patamar, mas
na realidade está apenas ousando nos aspectos gráficos que os realizadores de
outrora não podiam. Seu filme carece de uma série de deficiências: A natureza de
sua proposta nunca parece se harmonizar com sua moral torpe, nem tampouco com o
final ambíguo e pretensamente sarcástico à que ela leva.
Consegue entreter, é
verdade, mas os nomes citados no início deste texto criaram outras obras
infinitamente mais relevantes do que esta.
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