quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Elegia de Osaka

Na trama árdua movida por Kenji Mizoguchi, uma jovem assalariada precisa mover mundos e fundos –em meio ao impiedoso ambiente do Japão pós-guerra –para sanar as despesas da família, e impedir o adoecimento do pai idoso.
Tudo dá errado, até que as circunstâncias lhe deixam apenas com a alternativa ingrata de tornar-se amante de seu patrão.
Ela aceita essas condições que a tornam uma rejeitada até mesmo em seu seio familiar, numa profunda (e algo dolorida) ênfase da narrativa nos flagrantes de hipocrisia perceptíveis em pequenos detalhes do comportamento da sociedade japonesa de então.
Filmada com expressiva e nítida simpatia pelos aspectos injustos da trajetória de sua protagonista (o cineasta Kenji Mizoguchi testemunhou, quando bem jovem, uma de suas irmãs ser entregue a uma casa de gueixas, o quê definiu profundamente o caráter denunciativo de seu trabalho), esta obra emblemática –ainda que menor –de Mizoguchi guarda todas as características que fariam dele um gigante do cinema japonês e mundial: A primorosa habilidade para reger o registro íntimo de um drama humano, em especial feminino, e a forma convicta com que lança mão de artifícios adultos e austeros para dirigir com brilhantismo cenas de natureza emocionalmente econômica.
Mesmo diante dessa deliberada exposição de uma dura realidade, a habilidade de Mizoguchi consegue extrair poesia do sofrimento mundano –essa característica está lá, na desolação cheia de significado da última cena, e em diversos outros flagrantes desta bela produção.

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