segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Galáxia do Terror

A quantidade de obras influenciadas pelo “Alien”, de Ridley Scott, hoje, chegam aos dois dígitos –quiçá, três dígitos! –sendo ainda assim poucos deles genuinamente relevantes.
Contudo, “Galáxia do Terror”, não obstante o fato de virar, com freqüência, uma comédia involuntária destaca-se entre eles por ser uma produção de Roger Corman –e abranger assim uma série de outras influências artísticas como “Planeta dos Vampiros”, de Mario Bava –e por trazer, em suas fileiras de técnicos, um iniciante James Cameron, creditado como cenógrafo, diretor de segunda unidade e membro da equipe de efeitos visuais!
Na trama, que une um absurdo típico dos filmes B com a efervescência criativa característica de Roger Corman (e que descaradamente remetia à ampla mitologia de criação de “Star Wars”) acompanhamos a partida de uma nave do planeta Xirxes em direção ao planeta Morganthus, sob uma missão de resgate a mando de um tal de “Mestre” (um ser enigmático cujos “defeitos especiais” escondem o rosto do ator com uma luz vermelha das mais artificiais lhe cobrindo a cabeça).
A missão é nebulosa, assim como as intenções do “Mestre” que serão de fato esclarecidas no desfecho, entretanto, a tripulação segue sua orientação com níveis oscilantes de submissão, e parecem ter saído direto do elenco de “Apertem Os Cintos, O Piloto Sumiu” (!): Há, por exemplo, o pretenso herói cheio de pose Cabren (Edward Albert, de “Abelhas Assassinas”, com um bigodinho que lembra tanto Tom Skerrit, de “Alien”, como também o cantor Freddie Mercury!), a mocinha sensitiva e sabichona Alluma (Erin Moran), a capitã megalomaníaca com uns parafusos a menos Trantor (Grace Zabriskie, a bruxa pavorosa de “Império dos Sonhos”, de David Lynch), o cara durão que se abstém de usar armas e usa em vez disso uns cristais –e chora pela perda deles mais do que pela morte dos companheiros! –Quuhod (Sid Haig, de “Rejeitados Pelo Diabo” e diversos outros filmes de Rob Zombie), o jovem irrequieto e assustado com aparência de alívio cômico –mas que paradoxalmente é o mais sem graça de todos... –Ranger (Robert Englund, o eterno Freddy Krueger de “A Hora do Pesadelo”, anos antes de seu icônico personagem), o cozinheiro que desde o início ostenta um aspecto suspeito –cuja ‘grande surpresa’ reservada a ele no final é possível prever graças à imensa displicência do ator que o interpreta –Kore (Ray Walston, de “My Favorite Martian” e “Picardias Estudantis”), o típico personagem medido à besta –e freqüente em filmes de terror –cuja incoerência das decisões colocará a perder a vida de todos Baelon (interpretado canhestramente por Zalman King que anos depois seguiria carreira como roteirista e diretor de filmes eróticos), a astronauta gatinha que sempre morre cedo demais Dameia (a bela Taaffe O’ Connell, protagonista daquela que deve ser a cena mais lembrada do filme: Um bizarro estupro envolvendo um verme gigante e muita nudez gratuita!), e alguns outros bem menos importantes.
Um núcleo de personagens, como se pode perceber, digno de constatar em qualquer besteirol dos anos 1980 –e cuja interpretação do elenco corresponde a tal impressão! –porém, vividos com uma seriedade sardônica que só lhe enaltece a galhofa.

Defendido por uns poucos que insistem em enxergar nele uma premissa inteligente onde o conceito de ‘monstro espacial’ é subvertido em função de uma idéia –má representada –sobre a manifestação dos piores terrores inconscientes dos personagens (algo como a ameaça do ID, também presente no enredo do clássico “O Planeta Proibido”) e atacado por muitos outros mais que não conseguem enxergar além de suas interpretações toscas, as manobras narrativas sem noção de seu roteiro, o comportamento bipolar de seus personagens e a construção sem pé nem cabeça de suas cenas, “Galáxia do Terror” é, para todos os efeitos, uma produção assumida e absolutamente trash (e não poderia ser mesmo diferente), do tipo que, hoje, o impiedoso circuito comercial não permitiria mais existir –talvez por isso, há nele uma aura anacrônica, nostálgica até, que lhe atribui uma atmosfera inesperadamente sexy!

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