quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Os Incríveis

Na época de seu lançamento, a grande novidade ao redor de “Os Incríveis” era o fato de ser a primeira animação da Pixar na qual os protagonistas eram seres humanos –todos os protagonistas das obras anteriores eram brinquedos (“Toy Story”), insetos (“Vida de Inseto”), seres imaginários (“Monstros S.A.”) ou criaturas do fundo do mar (“Procurando Nemo”), numa esperta maneira de contornar o problema de que a computação gráfica ainda não tinha atingido o patamar técnico adequado para se criar seres humanos de forma aceitável.
Em “Os Incríveis” –que também foi a estréia do animador Brad Bird, de “O Gigante de Ferro” e do posterior “Ratatouille” no estúdio –coube a tarefa de enfim encarar o desafio.
E a Pixar o fez demonstrando sua mais perene qualidade: A inteligência.
Não interessava aos seus realizadores conceber humanos absolutamente realistas –a exemplo da animação japonesa “Final Fantasy” –desde que isso sacrificasse a própria funcionalidade da trama. A saída: Moldar uma história com protagonistas humanos, sim, mas cuja natureza se aproximasse, deliberadamente, da fantasia e dos desenhos animados feitos a lápis. Ou seja, uma história de super-heróis.
Não bastasse isso, o diretor Brad Bird buscou inspirações poderosas para seu projeto que passam por conceitos inteligentes e complexos de clássicos indiscutíveis dos quadrinhos como “O Cavaleiro das Trevas” (o herói forçado à aposentadoria), o revolucionário “Watchmen” (os heróis submetidos à legislação da sociedade) e até mesmo à família super-heróica de “Quarteto Fantástico” (ironicamente, anos depois a Disney comprou a Marvel, dona do Quarteto Fantástico, tornando esse detalhe ainda mais curioso).
Após uma era de super-heróis onde se podia testemunhar, do meio da rua, os célebres feitos de paladinos como o Sr. Incrível (voz de Craig T. Nelson, o protagonista de “Poltergeist-O Fenômeno”), e o Sr. Gelado (voz de Samuel L. Jackson), o governo institui uma aposentadoria forçada aos vigilantes –diante de uma série de processos como suicidas que foram impedidos de se matar(!).
Outrora a identidade secreta do próprio Sr. Incrível, o cidadão de classe média, Roberto Pêra, casado com a ex-Mulher Elástica (voz de Holly Hunter) e pai de uma família na qual todos têm poderes (seus filhos são o superveloz Flecha, a menina invisível Violeta e o pequeno Zezé), ressente-se de já não viver mais seus dias de glória, e resolve agir as escondidas, afinal por uma lei governamental, é proibido usar poderes em público.
No entanto, suas ações clandestinas não passam despercebido de um manipulador super-vilão que põe em prática um plano para dizimar os super-heróis de uma vez por todas.
Além desse arrojo com que é construída sua premissa –e que afasta, por isso mesmo, um pouco do caráter emotivo de outros trabalhos da Pixar –“Os Incríveis” surpreende pelas pinceladas mais adultas em sua trama que não renega influências dos quadrinhos de observações corrosivas para com o ser humano e que passam longe de ser material infantil, em especial a graphic novel "Watchmen", adaptada para cinema, anos depois, por Zack Snyder.

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