Após a bem-sucedida mescla de cinema, música e
improvisação chamada “Apenas Uma Vez”, o diretor John Carney ganhou aval para
uma produção mais elaborada com direito à astros do primeiro time de Hollywood:
Além dos protagonistas, Mark Ruffalo e Keira Knightley, há James Corden,
Catherine Keener, a talentosa Hailee Steinfield (a menina de “Bravura Indômita”) e ilustres pontas de Adam Levine e Cee Lo Green.
Todavia, o que John Carney fez, em melodia e
intenção, foi algo muito parecido com seu trabalho anterior beneficiado desta
vez de valores consistentes de produção o quê tira dele, para o bem ou para o
mal, aquela crueza que “Apenas Uma Vez” tinha.
Dan já teve melhores dias como produtor
musical, mas agora amarga a decadência profissional, a relação pouco amigável
com a esposa (Catherine Keener) e o afastamento da filha (Hailee Steinfield),
tudo isso levando-o ao cume do alcoolismo –e, de início, falta alguma exatidão
na atuação improvisada de Mark Ruffalo, que vai melhorando pouco a pouco e se
firmando no papel ao longo do filme. É um ponto de virada então quando ele se
encontra com Gretta (Keira Knightley, buscando escolhas interessantes que a
afastem dos papéis de mocinha do início de sua carreira), e nela descobre um
daqueles talentos singulares e brutos que marcam a indústria musical.
Esse encontro, enunciado numa série de
flashbacks, já dá uma idéia da sofisticação que o orçamento mais generoso
propiciou ao diretor, assim como na belíssima cena em que Keira canta só em um
barzinho e, na ótica do personagem Dan, é vista cercada por instrumentos de
acompanhamento que tocam sozinhos.
Dan e Gretta –que também tem lá seu drama,
tendo sido largada em Nova York pelo namorado (Adam Levine), e agora se vê meio
sem rumo –decidem produzir um álbum de forma independente, sem gravadora ou
estúdio de som, o quê significa gravar as músicas nas ruas com toda a cacofonia
da cidade e os incidentes eventuais interferindo no resultado.
É mais uma vez, portanto, uma ode de John
Carney à arte dos cantores de rua como havia sido em “Apenas Uma Vez”, e como
ele tornou a fazer depois deste filme em “Sing Street”, todas obras onde ele
usa a música como um intermediário no fluxo de emoções complicadas (como o
amor) entre pessoas igualmente complicadas: Aqui, como em seus outros
trabalhos, Dan e Gretta se entendem, se ajudam e se compreendem, e na
inevitabilidade da lida com sentimentos à flor da pele que a música inspira,
vêem então o amor florescer. Ainda assim, Carney, como em seu filme anterior,
opta por não mergulhar nesse oceano: Em seus filmes o romance apenas imbrica
timidamente por frestas diminutas que as escolhas narrativas do diretor (Dan é
casado; Gretta tem lá suas pendências com o namorado; e a idade de ambos não é
muito compatível) não permitem aflorar plena e escancaradamente –é uma opção
que ele faz, mas é uma pena desperdiçar casal de química tão nítida e
encantadora como Mark Ruffalo e Keira Knightley.
“Mesmo Se Nada Der Certo” é mais hollywoodiano,
mais melindroso, mas Carney é feliz em usar os recursos que dispõe a mais para
elaborar um belo filme.
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