sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Cinzas No Paraíso

Pouco antes de desaparecer por cerca de vinte anos –e retomar a atividade cinematográfica com “Além da Linha Vermelha”, de 1999 –o diretor Terence Malick entregou este “Cinzas No Paraíso” –ou “Dias de Paraíso”, tradução do título original como intitulam em alguns lugares –um arrojo de experimentação visual que inevitavelmente sagrou-se com o Oscar de Melhor Fotografia.
Como em todos os trabalhos de Malick, as imagens são mesmo espetaculares acrescentando poder dramático à trama que ele conta.
O problema é justamente sua história padecer de alguns aspectos de folhetim que facilmente entediam o expectador: Década de 1930. Grande Depressão Norte-Americana. Fugitivos de uma vida inclemente, Bill (Richard Gere), sua namorada Abby (Brooke Adams) e sua irmã menor (Linda Marz) chegam a uma fazenda de trigo onde decidem trabalhar na temporada da colheita, contando a todos que são irmãos a fim de evitar perguntas –por uma razão nunca devidamente esclarecida no nebuloso roteiro.
Durante esse período, o debilitado proprietário da fazenda (Sam Shepard) encanta-se por Abby e a pede em casamento. Julgando que ele logo morrerá, Bill aconselha-a a aceitar o pedido para que possam enriquecer herdando a propriedade. Mas, na contramão de seus planos o rapaz enfermo não morre, e a convivência que transcorre para além da prevista temporada vai acirrando as relações –aos poucos, o fazendeiro vai se dando conta de que Bill a Abby não são irmãos como afirmam ser –deixando claro que esse triângulo amoroso não se sustentará por muito tempo.
No segundo filme de sua carreira, o autoral diretor Terence Malick, parece ainda disposto a especular as angústias subconscientes da América, como no anterior “Terra de Ninguém”, porém aqui numa ótica mais elaborada (e, no fim das contas, menos eficaz) onde ele justapõe numa mesma premissa os conceitos de luta de classes, as conseqüências quase metafísicas da mentira e da dissimulação e os esboços primários de uma família disfuncional, tudo filmado com luz natural e com cenas majoritariamente externas (o cinema de Malick parece se dedicar à sublinhar a insignificância do homem diante da grandiosidade da natureza), resultando num filme onde a trama por vezes se mostra subserviente às imagens.


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