Tarefa complicada essa assumida por Rian
Johnson: Dar continuidade, neste segundo filme da terceira trilogia da saga “Star
Wars”, ao enredo e aos personagens concebidos por J.J. Abrahams em “O Despertar da Força”.
Não apenas isso: Suprir os anseios de tantos
fãs –que ao longo desses últimos dois anos, elaboraram milhares de teorias
sobre quem seriam os pais de Rey (a maravilhosa Daisy Ridley) e de qual seria o
seu futuro –e responder a contento inúmeras perguntas que ficaram sem resposta;
isso tudo e ainda segurar o rojão da inevitável expectativa de que –sendo este o
capítulo do meio –ele teria de igualar em qualidade, espanto e ressonância
emocional o adorado “O Império Contra-Ataca”, preferido de nove entre dez fãs
da saga criada por George Lucas.
Por tudo isso é um tanto injusto que muitos já
reclamem que o filme é longo demais (não é), que sua primeira parte é muito arrastada
(nem tanto) e que o trabalho de Johnson, como diretor, não consegue obter o
mesmo encanto de Abrahams no filme anterior (longe disso...).
O quê Rian Johnson faz –e, talvez, isso
explique a reação rabugenta de alguns –é subverter as expectativas.
Quando “O Despertar da Força” encerrou-se, Rey
enfim encontrava Luke (Mark Hamill), o assim alardeado último jedi para
devolver a ele seu sabre de luz e convidá-lo, digamos assim, para juntar-se à
Resistência, comandada por sua irmã Léia (Carrie Fisher, falecida poucos meses
após as filmagens), na luta contra a Primeira Ordem, um resquício do que foi o
Império Galáctico.
Por dois anos, os fãs tinham certeza de que, o
filme que se desdobraria a partir daí, mostraria Rey sendo treinada por Luke, e
de lá partindo para enfrentar as forças do mal.
Porém, o roteiro de Johnson contorna
completamente o óbvio, preferindo mostrar o lado humano dos heróis, as discordâncias
dentro da nobre Resistência e a fragilidade de uma causa em meio à guerra.
Após a destruição da Base Starkiller, no fim do
último filme. Descobrimos que não há muito que comemorar para a Resistência,
afinal, a Primeira Ordem sabe a localização de seu reduto e apesar da derrota
ainda tem recursos para esmagá-los –e, na cena formidável que abre o filme, já
começa a movê-los para fazer exatamente isso!
É também nessa cena em que Rian Johnson explora
suas particularidades como diretor (mais atento aos detalhes inesperados do que
Abrahams), e começa amostrar a que veio o personagem mais desperdiçado do outro
filme, Poe Dameron (o ótimo Oscar Isaac), que obtém aqui uma extraordinária
importância e solidez junto a trama.
Só então, após nos contextualizar na trama dos
outros personagens para além do final enganosamente feliz do filme anterior,
que Johnson nos leva de volta à cena que encerrou o filme de Abrahams, para
prosseguir além dela de maneira desconcertante: Luke, veja só, não quer nada
com a resistência e seu exílio justifica a negativa para o pedido da jovem. Ele
conhece muito bem as vicissitudes da Força, que Rey está só começando a notar.
Também Finn (John Boyega), o outro protagonista,
ao lado de Rey, introduzido em “O Despertar da Força”, tem lá seus problemas:
Ao lado da dedicada e idealista Rose (Kelly Marie Tran), ele precisa
infiltrar-se num destróier inimigo e desabilitar o mecanismo prodigioso que
está permitindo à Primeira Ordem caçar e exterminar a Resistência por toda a
galáxia. Para tanto, eles têm como peça fundamental o auxílio algo duvidoso de
um escorregadio trapaceiro (Benicio Del Toro, cujo personagem, para surpresa de
muitos, não tem tanta importância assim no final das contas). Enquanto Finn,
Rose e o dróide BB-8 se arriscam nessa empreitada, cabe a Poe Dameron impedir
que o comando indulgente de uma nova oficial (Laura Dern, uma surpresa)
comprometa o quê ainda resta da Resistência.
Do outro lado da contenda, Kylo Ren (Adam
Driver, excelente), sobrinho de Luke, filho de Léia e assassino de Han Solo,
seu pai, é confrontado com suas limitações e frustrações. Mais do que ameaçar o
favoritismo cultivado com ele junto ao maquiavélico Líder Supremo Snoke (Andy
Serkis), elas o afastam de seu objetivo mais pessoal de fato: Igualar o poder e
a lenda de seu avô, Darth Vader.
O trabalho de Rian Johnson então faz pela saga
o quê ele já mostrou fazer bem em outros grandes filmes, como “Vigaristas” e “Looper-Assassinos
do Futuro”: Explorar um ambiente, mesmo que fantástico e orquestrar as
motivações íntimas com as conseqüências épicas e dessa conjugação extrair
momentos surpreendentes.
E Johnson sabe manipular as ferramentas
narrativas que têm em mãos: Ele entrega momentos reveladores e instigantes
durante o prolongado período em que Rey confabula com Luke em seu exílio –trecho
esse que representa o maior alvo das reclamações do filme –observa com um apuro
muito mais atento que Abrahams as variações psicológicas mais sutis de seus personagens
–e, nesse sentido, sem entregar nenhuma surpresa (e a partir de um ponto, elas
serão inúmeras!), as ramificações acerca das personalidades de Rey e de Kylo
Ren são as mais notáveis –e elabora cenas brilhantes e espetaculares, marca
registrada de uma saga famosa pela proeminência de seus efeitos especiais, mas
aqui tratadas com um refinamento e uma singularidade visual flagrantes: Sendo os
melhores exemplos, a impressionante sequência de sacrifício de uma das
personagens dentro de um cruzador da Resistência, e a batalha final em um
deserto de areia vermelha coberto de sal.
Durante todos esses percalços, Johnson trata de
conduzir seu roteiro com a precisão de quem quer (e em diversas passagens
consegue) fazer algo até inédito em “Star Wars”: Surpreender o público com
lances sofisticados e emocionantes de uma trama pontuada por reviravoltas.
“Star Wars” está em um outro nível agora, e
nesses próximos dois anos até o “Episódio IX” só podemos supor para onde esses
personagens e sua instigante dinâmica revelada aqui irão nos levar.
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