É um pouco unilateral a afirmação de que este
primeiro trabalho do diretor Neil Labutte é misógino. Claro que o discurso de
repúdio às mulheres está lá, elaborado com alarmante convicção e contundência.
Porém, se considerarmos que Labutte dá espaço à narrativa para uma personagem
feminina expor (ainda que brevemente) seu sofrimento de modo que consiga
compadecer o expectador, então podemos dizer que “Na Companhia dos Homens”, da
forma como é, acaba sendo mais um registro profundo e incômodo das facetas
socialmente impunes do mau-caratismo, traduzidas com eficiência no vistoso
personagem de Aaron Eckhart.
O filme de Labutte consiste de uma estrutura
árida e desafiadora: Um conjunto cirúrgico e econômico de diálogos muito bem
dirigidos que compõem seis semanas; vindo a ilustrar, por sinal, os capítulos
do filme.
Chad (Eckhart) e Howard (Matt Malloy) são
executivos médios de uma empresa gerenciadora de produtos. Howard foi
abandonado pela namorada e se lamenta com Chad que lhe diz ter passado pela
mesma situação. Trocando figurinhas em sua recém-concluída aversão ao sexo
oposto, os dois são enviados para uma negociação provisória de seis semanas em
outra cidade, com Howard ocupando um cargo ligeiramente superior ao de Chad.
Este tem então uma idéia: Valer-se desse período para encontrar uma mulher
vulnerável que ambos possam cortejar e, ao fim do tempo estipulado, dar a ela
um fora fenomenal.
Uma espécie de vingança simbólica pelo que as
ex-namoradas os fizeram passar.
A escolhida em questão não tarda a aparecer:
Trata-se de Christine (Stacy Edwards), a secretária surda-muda da divisão em
que Chad está trabalhando.
As semanas se transcorrem com os dois dando
continuidade ao plano, mas algo inesperado começa a acontecer: Por um lado, o
carente e ingênuo Howard começa a se apaixonar de fato por Christine; por
outro, ele e Chad, justamente por conta de seu sentimento genuíno, iniciam
pouco a pouco um embate psicológico velado que se estende desde os diálogos que
travam nos horários recreativos (quando esmiúçam um para o outro, ora com
desdém, ora com paternalismo, os detalhes íntimos de seus encontros com Christine)
até as reuniões de natureza profissional e circunstâncias trabalhistas. E em
todos os casos, seja pelo charme natural do ator Aaron Eckhart, seja pela
predisposição carismática e incontornável do próprio personagem, é Chad quem
irá prevalecer: Aos poucos, Howard decai na hierarquia empresarial, enquanto
Chad (a despeito de sua falta de escrúpulos revelada em inúmeros momentos, ou
talvez, por causa dela) escala consideravelmente. Apesar da sinceridade de
Howard –que em determinado ponto se torna irreprimível –é por Chad que
Christine se diz, perto do fim, apaixonada; e ambos, ela e Howard, sofrerão
terrivelmente por isso.
O que torna “Na Companhia de Homens” realmente
perturbador não é somente a maneira notável que Labutte encontra para
evidenciar a maldade e a perversidade num âmbito e num contexto em que ela pode
ser exercida sem amarras e sem conseqüências (por mais terrível que seja, nada
do que Chad faz pode ser qualificado como crime digno de punição), mas também ao
ilustrar o fato de que, mesmo havendo indícios predatórios antes e depois de
toda a sordidez ser enfim mostrada, ainda assim –como na vida real –continua e
continuará sendo nas aparências que o raso ser humano buscará uma bússola para
seu julgamento moral.
Nesse sentido –e até por ser,
no filme, o personagem que melhor entende essa torpeza das relações humanas –o
desapego de Chad faz dele um dos mais terríveis psicopatas do cinema.
Nenhum comentário:
Postar um comentário