Embora já contasse mais de uma década do
avassalador sucesso independente de “A Bruxa de Blair”, o estilo ‘found
footage’ –aquele em que o filme se resume à filmagem de uma câmera manuseada
por um dos personagens –ainda não havia sido banalizado a ponto de não contar
como um dos detalhes curiosos acerca deste filme lançado em 2007 –e hoje,
sabe-se, parte de uma espécie de ‘universo de filmes compartilhados’ que já
ganhou, pelo menos, outros dois exemplares.
E o roteiro, escrito por Drew Goddard, vale-se
inteligentemente do fato de ser uma fita gravada (sobre outra, contendo uma
gravação prévia) para utilizar tais elementos com a mesma função narrativa de
flashbacks.
A fita em questão pertence à Robert (Michael
Stahl-David), o protagonista do filme –as primeiras cenas são, por sinal, dele
com a garota que ele ama, Beth (a bela Odette Yustman). Contudo tais momentos
–que servem como lembranças –são interrompidos: A mesma fita agora tem uma
outra gravação por cima, a da despedida de Robert que partirá, no dia seguinte,
para o Japão, onde ocupará um cargo muito disputado. Quem opera a câmera, muito
à contra-gosto no início é Hudson (T.J. Miller), melhor amigo de Jason (Mike
Vogel), irmão de Robert, noivo de Lilly (Jessica Lucas, lindíssima).
Ao longo da festa, Hudson grava depoimentos de
amigos e conhecidos, embora esteja mais interessado em Marlena (Lizzy Caplan,
maravilhosa).
Contam cerca de vinte minutos quando o filme
dirigido por Matt Reeves (posteriormente realizador de “Deixe-Me Entrar” e
“Planeta dos Macacos-A Guerra”) sofre sua mais notável guinada: Capturados
nesse momento casual, num apartamento de Nova York, os presentes –incluindo os
personagens mencionados acima –são apanhados por um acontecimento insólito, o
ataque de um monstro à cidade (!).
É quando as escolhas narrativas desta produção
de J.J. Abrahams começam a fornecer seus benefícios ao expectador: Toda a
simulação da realidade –ainda que ela nunca esconda com tanta eficácia suas
intenções –fazem de “Cloverfield” um espetáculo de espanto genuíno.
Todos os desdobramentos desse ocorrido
(inclusive a fuga da população, a operação militar de combate à criatura e a busca
desesperada de Robert por Beth que se encontra perdida em outra parte da cidade)
são mostrados do ponto de vista dessa câmera digital amadora, carregada
eventualmente por Hudson; e assim, seus sustos são nossos próprios sustos, seus
sobressaltos são nossos próprios sobressaltos. E, embora a linguagem de falso
documentário impeça a direção de fotografia de exercer qualquer requinte de
acabamento, os realizadores encontram um meio de introduzir, nesta ótima
homenagem aos "filmes de monstro", uma série de traquejos de ordem
cinematográfica, como a aparição gradativa do monstro (a exemplo do estilo
sugestivo de Spielberg em “Tubarão”), ou os já mencionados flashbacks –e a
seqüência final, onde vários detalhes imperceptíveis são plantados para o
expectador exercitar a imaginação é, por isso mesmo, de uma sacada genial!
“Cloverfield-Monstro” é um
apanhado de diversas referências (sendo “Godzilla”, talvez, a mais gritante de
todas) cujos elementos, manipulados com extrema propriedade, resultaram num
merecido sucesso-cult.
Nenhum comentário:
Postar um comentário