O título nacional pode sugerir uma tentativa de
Nagisa Oshima reaproveitar a grande repercussão de seu polêmico “O Império dos
Sentidos”, mas, este trabalho lançado anos depois, nos anos 1980, tem muitos
méritos próprios; é, por exemplo, uma obra de notável flagrante na evolução que
Oshima sofreu como cineasta –sua narrativa abrange os elementos de seu cinema
com um refinamento ainda maior, justificando assim o prêmio de direção recebido
em Cannes.
Sua trama é sobre a resignada e desiludida Seki
(Kasuko Yoshiyuki, de um charme maduro), que vive numa pequena aldeia do Japão
Feudal, casada com o condutor de riquixá, Gisaburo (Takahiro Tamura). A proximidade
com o jovem Toyoji (Tatsuya Fuji, mesmo ator de “O Império dos Sentidos”),
quando este passa a seduzi-la, leva Seki a cometer adultério, fazendo a paixão
se intensificar em paralelo ao perigo.
Não tarda para que Seki e Toyoji vejam em
Gisaburo um inconveniente em sua relação. À isso segue-se a conclusão de
tirá-lo do caminho, o quê conduzirá a trama à tragédia real, registrada no
Século XIX, na qual o filme de Oshima se inspira.
Todavia, Oshima ergue uma atmosfera quase
mágica no terço final, quando o peso do crime que perpetraram leva Seki e
Toyoji à paranóia e à superstição –as aparições do que seria o fantasma de
Gisaburo são imagens construídas com um refinamento visual inesperado e
fascinante –e, por fim, à sua derrocada.
Como em seu trabalho mais
famoso, Oshima observa seus personagens, conduzidos pelo desejo irrefreável,
avançarem ao abismo da tragédia sem qualquer possibilidade de socorro; para
ele, o ser humano –mesmo que o mais civilizado e passivo –vive e morre guiado
por impulsos tão primitivos quanto guturais, e ele dedicou, ao menos, dois
grandes filmes na tentativa de ratificar essa conclusão.
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