sexta-feira, 8 de junho de 2018

Sanjuro


No clássico “Yojimbo-O Guarda-Costas” –que inspirou Sergio Leone a fazer “Por Um Punhado de Dólares” e, dizem, Sergio Corbucci a fazer “Django” –o mestre Akira kurosawa apresentou o memorável personagem Sanjuro vivido com sagacidade e primor singulares por Toshiro Mifune.
O sucesso foi imediato, e logo Kurosawa era cortejado com propostas para fazer uma segunda aventura. O mestre então aproveitou o enredo de um roteiro inacabado e fez com ele um novo filme protagonizado pelo icônico personagem.
Como no filme anterior, a trama é um deleite que se equilibra entre um fulgor criativo propenso à diversão e uma série de espertas sacadas inerentes ao protagonista, tudo isso emoldurando um filmaço de samurai assinado por um especialista no gênero.
Numa província do Japão, uma cidadezinha se vê fragmentada pelas indisposições entre o conselheiro Mutsuta e o superintendente Kikui –dois personagens antagonistas que, embora movimentem a premissa, quase nunca surgem em cena (exceto por uma breve aparição de Mutsuta no final).
Um grupo de jovens e afoitos espadachins ainda delibera para quem sua lealdade penderá na cena inicial. Surge então –de maneira antológica, como lhe convém –o protagonista Sanjuro, pronto para dar preciosas lições aos jovens sobre como funcionam os ardilosos mecanismos da honra: Experiente, ele já sabe que Mutsuta é íntegro e que Kikui é corrupto, e de pronto isso já salva a vida dos nove rapazes –e é nada menos que magistral perceber a maneira inteligente com que Kurosawa filma os movimentos coletivos dos personagens em cena.
Com o conselheiro Mutsuta aprisionado pelos capangas de Kikui, Sanjuro deve então liderar os nove jovens samurais –um tanto quanto relutantes quanto a sua liderança –para ludibriar os inimigos e sobre eles prevalecer a despeito de sua superioridade numérica.
Nisso, entram as maquinações que o personagem já demonstrara no filme anterior: Como em “Yojimbo”, Sanjuro se faz de agente duplo, indo e vindo entre as duas facções inimigas; ao contrário daquele filme, porém, o diretor Kurosawa ressalta que aqui há, de fato, um lado a se torcer.
Certamente, tão sensacional quanto o filme ao qual dá continuidade, “Sanjuro” é, na tradição das obras magnânimas de Kurosawa, uma sucessão de cenas absolutamente brilhantes, concebidas com perícia insuspeita. Entre elas, o espetacular duelo final, uma verdadeira aula sobre enquadramento, encenação, atuação e perspicácia narrativa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário