No clássico “Yojimbo-O Guarda-Costas” –que
inspirou Sergio Leone a fazer “Por Um Punhado de Dólares” e, dizem, Sergio
Corbucci a fazer “Django” –o mestre Akira kurosawa apresentou o memorável
personagem Sanjuro vivido com sagacidade e primor singulares por Toshiro
Mifune.
O sucesso foi imediato, e logo Kurosawa era
cortejado com propostas para fazer uma segunda aventura. O mestre então
aproveitou o enredo de um roteiro inacabado e fez com ele um novo filme
protagonizado pelo icônico personagem.
Como no filme anterior, a trama é um deleite
que se equilibra entre um fulgor criativo propenso à diversão e uma série de
espertas sacadas inerentes ao protagonista, tudo isso emoldurando um filmaço de
samurai assinado por um especialista no gênero.
Numa província do Japão, uma cidadezinha se vê
fragmentada pelas indisposições entre o conselheiro Mutsuta e o superintendente
Kikui –dois personagens antagonistas que, embora movimentem a premissa, quase
nunca surgem em cena (exceto por uma breve aparição de Mutsuta no final).
Um grupo de jovens e afoitos espadachins ainda
delibera para quem sua lealdade penderá na cena inicial. Surge então –de
maneira antológica, como lhe convém –o protagonista Sanjuro, pronto para dar
preciosas lições aos jovens sobre como funcionam os ardilosos mecanismos da
honra: Experiente, ele já sabe que Mutsuta é íntegro e que Kikui é corrupto, e
de pronto isso já salva a vida dos nove rapazes –e é nada menos que magistral
perceber a maneira inteligente com que Kurosawa filma os movimentos coletivos
dos personagens em cena.
Com o conselheiro Mutsuta aprisionado pelos
capangas de Kikui, Sanjuro deve então liderar os nove jovens samurais –um tanto
quanto relutantes quanto a sua liderança –para ludibriar os inimigos e sobre
eles prevalecer a despeito de sua superioridade numérica.
Nisso, entram as maquinações que o personagem
já demonstrara no filme anterior: Como em “Yojimbo”, Sanjuro se faz de agente
duplo, indo e vindo entre as duas facções inimigas; ao contrário daquele filme,
porém, o diretor Kurosawa ressalta que aqui há, de fato, um lado a se torcer.
Certamente, tão sensacional quanto o filme ao
qual dá continuidade, “Sanjuro” é, na tradição das obras magnânimas de
Kurosawa, uma sucessão de cenas absolutamente brilhantes, concebidas com perícia
insuspeita. Entre elas, o espetacular duelo final, uma verdadeira aula sobre
enquadramento, encenação, atuação e perspicácia narrativa.
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