Uma escolha inesperada de projeto para o russo
Andrei Konchalovski que, de obras de natureza clássica como “Os Amantes de
Maria”, “Gente Diferente” e “Expresso Para O Inferno”, foi para o supra-sumo do
cinema oitentista descerebrado de ação numa produção que reunia dois astros
casca-grossa do período: Sylvester Stallone, o “Rambo” em pessoa (há até uma
piadinha dele a respeito do personagem), e Kurt Russel, o Snake Plissken de
“Fuga de Nova York” –os dois, por sinal, voltaram a dividir o elenco de um
mesmo filme (mas, não a mesma cena) em “Guardiões da Galáxia Vol. 2”.
Não há um pingo de constrangimento no diretor
Konchalovski ao abraçar um filme com todas as facetas técnicas e pirotécnicas
do gênero ação; ele inclusive até parece exultante em poder brincar com toda
essa parafernália.
Com efeito, a sua experiência como realizador
sério e sensato se manifesta na premissa, rasa e caricata como é o habitual,
mas certeira e incisiva em seus propósitos: Policiais de distritos diferentes e
de estilos diferentes, o sofisticado Raymond Tango (Stallone) e suburbano Gabriel
Cash (Russel), ambos determinados e implacáveis, se aproximam –cada um ao seu
modo –do mesmo barão do crime que comanda o tráfico que querem desbaratar
(vilão que Jack Palance, notório especialista em vilões, compõe com gracejos
típicos).
Os dois experimentarão o perigo de mexer com
inimigos munidos de amplos recursos: Tango e Cash são, os dois, acusados por
crimes que não cometeram, e largados, por meio de uma série de maquinações,
numa prisão de segurança máxima, onde terão de encarar os mesmos criminosos que
lá puseram.
Da encrenca mirabolante que o roteiro lhes
colocou, Tango e Cash devem obter uma saída, também ela mirabolante: Fugir da
prisão (numa seqüência montada com todas as manobras implausíveis do gênero a
que se tem direito, mas poderosa em sua capacidade de fazer vibrar e empolgar),
para então caçar seu nêmesis e dar fim aos seus planos de uma vez, o que conduz
o filme de Konchalovski a um clímax explosivo e característico –e pensar que
este é o mesmo realizador que serviu de roteirista para “Andrei Rublev”, de
Tarkovski!
Curioso, justamente por esse motivo, e até
admirável no esforço em desvincular Stallone da imagem truculenta de Rambo (Ray
Tango, sobretudo na comparação com o despojado Gab Cash de Russel, é um
personagem bem mais ‘almofadinha’), “Tango & Cash” é hoje uma obra de ação
com todos os ingredientes incontronáveis e indeletáveis do gênero, com a
vantagem de serem aqui administrados por um cineasta de orientação incomum e
dramática.
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