terça-feira, 12 de junho de 2018

Tango & Cash


Uma escolha inesperada de projeto para o russo Andrei Konchalovski que, de obras de natureza clássica como “Os Amantes de Maria”, “Gente Diferente” e “Expresso Para O Inferno”, foi para o supra-sumo do cinema oitentista descerebrado de ação numa produção que reunia dois astros casca-grossa do período: Sylvester Stallone, o “Rambo” em pessoa (há até uma piadinha dele a respeito do personagem), e Kurt Russel, o Snake Plissken de “Fuga de Nova York” –os dois, por sinal, voltaram a dividir o elenco de um mesmo filme (mas, não a mesma cena) em “Guardiões da Galáxia Vol. 2”.
Não há um pingo de constrangimento no diretor Konchalovski ao abraçar um filme com todas as facetas técnicas e pirotécnicas do gênero ação; ele inclusive até parece exultante em poder brincar com toda essa parafernália.
Com efeito, a sua experiência como realizador sério e sensato se manifesta na premissa, rasa e caricata como é o habitual, mas certeira e incisiva em seus propósitos: Policiais de distritos diferentes e de estilos diferentes, o sofisticado Raymond Tango (Stallone) e suburbano Gabriel Cash (Russel), ambos determinados e implacáveis, se aproximam –cada um ao seu modo –do mesmo barão do crime que comanda o tráfico que querem desbaratar (vilão que Jack Palance, notório especialista em vilões, compõe com gracejos típicos).
Os dois experimentarão o perigo de mexer com inimigos munidos de amplos recursos: Tango e Cash são, os dois, acusados por crimes que não cometeram, e largados, por meio de uma série de maquinações, numa prisão de segurança máxima, onde terão de encarar os mesmos criminosos que lá puseram.
Da encrenca mirabolante que o roteiro lhes colocou, Tango e Cash devem obter uma saída, também ela mirabolante: Fugir da prisão (numa seqüência montada com todas as manobras implausíveis do gênero a que se tem direito, mas poderosa em sua capacidade de fazer vibrar e empolgar), para então caçar seu nêmesis e dar fim aos seus planos de uma vez, o que conduz o filme de Konchalovski a um clímax explosivo e característico –e pensar que este é o mesmo realizador que serviu de roteirista para “Andrei Rublev”, de Tarkovski!
Curioso, justamente por esse motivo, e até admirável no esforço em desvincular Stallone da imagem truculenta de Rambo (Ray Tango, sobretudo na comparação com o despojado Gab Cash de Russel, é um personagem bem mais ‘almofadinha’), “Tango & Cash” é hoje uma obra de ação com todos os ingredientes incontronáveis e indeletáveis do gênero, com a vantagem de serem aqui administrados por um cineasta de orientação incomum e dramática.

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