Sempre adepto de histórias dramáticas onde seus
personagens transpõem um árduo trajeto entre o ponto longínquo em que estão e o
objeto de seu merecimento, o diretor chinês Zhang Ymou conduziu este projeto
com a mesma vibração neo-realista dos últimos trabalhos dentro desse gênero
mais austero que realizou nas últimas décadas, sendo alguns deles os ótimos
“Nenhum A Menos” e “O Caminho Para Casa”, com Zhang Zi Yi.
O filme
se inicia no Japão –e a dicotomia entre as culturas e idiomas do Japão e da
China, essencial à premissa, pode confundir alguns expectadores ocidentais
incapazes de discernir um do outro –onde o Sr. Takata (Takakura Ken), humilde
morador de uma vila de pescadores, se ressente com a distante relação com
Kenichi, seu filho morador de Tóquio.
Quando Kenichi adoece de um câncer isso só
torna ainda mais frustrantes suas tentativas de aproximação.
A fim de satisfazer o que aparentemente é um
dos desejos ainda não realizados do filho –que era um documentarista
entusiasmado com as canções folclóricas chinesas –o Sr. Takata viaja até a
China disposto a filmar a apresentação de um ator que afirmava ser o melhor
intérprete da ópera “Um Longo Caminho”, cuja performance Kenichi não havia
conseguido filmar.
Contudo (como se revela sintomático no cinema
de Ymou), há um imenso obstáculo existencial complicando a tarefa: Li Jiamin, o
dito ator, foi preso recentemente e as autoridades, em princípio, são veementes
nas negativas aos apelos de Takata.
Sereno e implacável, ele convence esses
opositores e supera cada uma das barreiras; apenas para descobrir que novas
circunstâncias se interpõem em seu objetivo.
Em algum momento, Ymou parece se perguntar qual
o real propósito da obstinação: Dificultado pelas incomunicabilidades da língua
(o Sr, Takata não fala chinês e a maioria de seus interlocutores não falam
japonês), o protagonista tenta encontrar o filho de Li Jiamin, o garotinho Yang
Yang, morador da distante Aldeia da Pedra e provável razão para a incapacidade
do ator em executar sua apresentação.
Uma vez tendo convencido os provincianos
líderes da aldeia, o próprio Sr. Takata se perde, junto do pequeno Yang Yang no
caminho para a prisão –é o próprio Ymou esbaldando-se com as possibilidades
dramáticas da busca cuja obstrução o tempo todo ele passa a elaborar.
“Um Longo Caminho” à sua maneira peculiar segue
o conceito de um road-movie no qual é a viagem (e a transformação acarretada em
seu percurso) o real interesse na narrativa e não necessariamente o lugar onde
se quer chegar. Assim sendo, serão as próprias circunstâncias de sua jornada e
as relações humanas nela suscitadas, que irão operar uma nova impressão no Sr.
Takata e na forma com que ele se relaciona com o filho.
Em sua dramaturgia, atenta às amargas ironias
da vida, ele até vai além: Em “Um Longo Caminho”, os motivos que abastecem a
busca se perdem em algum momento na transformação irreversível das coisas, mas,
o valor e a coragem embutidos na tentativa, esses sim, permanecem salutares e
admiráveis.
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