segunda-feira, 16 de julho de 2018

Um Longo Caminho


Sempre adepto de histórias dramáticas onde seus personagens transpõem um árduo trajeto entre o ponto longínquo em que estão e o objeto de seu merecimento, o diretor chinês Zhang Ymou conduziu este projeto com a mesma vibração neo-realista dos últimos trabalhos dentro desse gênero mais austero que realizou nas últimas décadas, sendo alguns deles os ótimos “Nenhum A Menos” e “O Caminho Para Casa”, com Zhang Zi Yi.
 O filme se inicia no Japão –e a dicotomia entre as culturas e idiomas do Japão e da China, essencial à premissa, pode confundir alguns expectadores ocidentais incapazes de discernir um do outro –onde o Sr. Takata (Takakura Ken), humilde morador de uma vila de pescadores, se ressente com a distante relação com Kenichi, seu filho morador de Tóquio.
Quando Kenichi adoece de um câncer isso só torna ainda mais frustrantes suas tentativas de aproximação.
A fim de satisfazer o que aparentemente é um dos desejos ainda não realizados do filho –que era um documentarista entusiasmado com as canções folclóricas chinesas –o Sr. Takata viaja até a China disposto a filmar a apresentação de um ator que afirmava ser o melhor intérprete da ópera “Um Longo Caminho”, cuja performance Kenichi não havia conseguido filmar.
Contudo (como se revela sintomático no cinema de Ymou), há um imenso obstáculo existencial complicando a tarefa: Li Jiamin, o dito ator, foi preso recentemente e as autoridades, em princípio, são veementes nas negativas aos apelos de Takata.
Sereno e implacável, ele convence esses opositores e supera cada uma das barreiras; apenas para descobrir que novas circunstâncias se interpõem em seu objetivo.
Em algum momento, Ymou parece se perguntar qual o real propósito da obstinação: Dificultado pelas incomunicabilidades da língua (o Sr, Takata não fala chinês e a maioria de seus interlocutores não falam japonês), o protagonista tenta encontrar o filho de Li Jiamin, o garotinho Yang Yang, morador da distante Aldeia da Pedra e provável razão para a incapacidade do ator em executar sua apresentação.
Uma vez tendo convencido os provincianos líderes da aldeia, o próprio Sr. Takata se perde, junto do pequeno Yang Yang no caminho para a prisão –é o próprio Ymou esbaldando-se com as possibilidades dramáticas da busca cuja obstrução o tempo todo ele passa a elaborar.
“Um Longo Caminho” à sua maneira peculiar segue o conceito de um road-movie no qual é a viagem (e a transformação acarretada em seu percurso) o real interesse na narrativa e não necessariamente o lugar onde se quer chegar. Assim sendo, serão as próprias circunstâncias de sua jornada e as relações humanas nela suscitadas, que irão operar uma nova impressão no Sr. Takata e na forma com que ele se relaciona com o filho.
Em sua dramaturgia, atenta às amargas ironias da vida, ele até vai além: Em “Um Longo Caminho”, os motivos que abastecem a busca se perdem em algum momento na transformação irreversível das coisas, mas, o valor e a coragem embutidos na tentativa, esses sim, permanecem salutares e admiráveis.

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