Lançado nos anos 1990, com sua trama ambientada
nos anos 1980, este filme de Todd Haynes pode ser considerado o primeiro a
tratar a década de 1980 como um período cuja atmosfera e percepção cultural (e
não somente a reconstituição visual) são resgatadas.
Tal situação é necessária para que a premissa
singular que ele possui faça sentido.
Julianne Moore (sempre de uma magnitude
habitual) é Claire White, esposa de um executivo de classe média-alta (Xander
Berkeley) e, como tal, tem uma bela casa para suprir do bom e do melhor.
Algo, entretanto, está errado com Claire: Ela
tem crises inexplicáveis; sofre uma ansiedade repentina; falta-lhe ar
subitamente (e de maneira atroz); seu corpo reage de maneira muitas vezes
dramática e contundente.
Os médicos não conseguem achar nada de errado
com ela. Não têm um diagnóstico para o quê a aflige. E, paralelamente, Claire
só vê essa aflição piorar.
É um mero folheto de academia que parece
sinalizar a ela com uma resposta: Em uma palestra, ela descobre um grupo de
pessoas que adoece sem que a medicina de então tenha uma explicação para seus
males. São pessoas cuja sistema imunológico foi comprometido pelo uso indevido
de substâncias químicas corriqueiras no mundo moderno.
Em geral, essas substâncias não representam
perigo para a maioria, mas uma pequena porcentagem (entre as quais, Claire está
inclusa) é severamente afetada por elas.
Numa radical mudança de ambientação, o filme
acompanha Claire, em seu terço final, a uma colônia onde tais pessoas se uniram e se refugiaram de tudo o que lhes transtornava.
Um local que exala estranheza à qual Claire se
esforça para se adaptar. Mais do que uma bizarrice latente que a caracterização
conduzida por Haynes faz questão de indicar, o quê perturba de fato o
expectador nesse trecho é a sensação –reforçada por uma ausência de maiores
informações –de que esse afastamento de Claire da família, da vida que tinha
antes, de tudo é uma condição que ela terá de aceitar como irreversível.
Moldando um drama de características incomuns
mas nem por isso menos contundentes, Todd Haynes entrega uma obra profética em
relação à comportamentos que surgiriam de fato a medida que a humanidade
caminhou para a virada do milênio.
Embora desconhecido do grande público, este é
um dos grandes filmes (senão o único) a abordar com coragem e firmeza tais
elementos.
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