segunda-feira, 22 de outubro de 2018

A Salvo/Mal do Século


Lançado nos anos 1990, com sua trama ambientada nos anos 1980, este filme de Todd Haynes pode ser considerado o primeiro a tratar a década de 1980 como um período cuja atmosfera e percepção cultural (e não somente a reconstituição visual) são resgatadas.
Tal situação é necessária para que a premissa singular que ele possui faça sentido.
Julianne Moore (sempre de uma magnitude habitual) é Claire White, esposa de um executivo de classe média-alta (Xander Berkeley) e, como tal, tem uma bela casa para suprir do bom e do melhor.
Algo, entretanto, está errado com Claire: Ela tem crises inexplicáveis; sofre uma ansiedade repentina; falta-lhe ar subitamente (e de maneira atroz); seu corpo reage de maneira muitas vezes dramática e contundente.
Os médicos não conseguem achar nada de errado com ela. Não têm um diagnóstico para o quê a aflige. E, paralelamente, Claire só vê essa aflição piorar.
É um mero folheto de academia que parece sinalizar a ela com uma resposta: Em uma palestra, ela descobre um grupo de pessoas que adoece sem que a medicina de então tenha uma explicação para seus males. São pessoas cuja sistema imunológico foi comprometido pelo uso indevido de substâncias químicas corriqueiras no mundo moderno.
Em geral, essas substâncias não representam perigo para a maioria, mas uma pequena porcentagem (entre as quais, Claire está inclusa) é severamente afetada por elas.
Numa radical mudança de ambientação, o filme acompanha Claire, em seu terço final, a uma colônia onde tais pessoas se uniram e se refugiaram de tudo o que lhes transtornava.
Um local que exala estranheza à qual Claire se esforça para se adaptar. Mais do que uma bizarrice latente que a caracterização conduzida por Haynes faz questão de indicar, o quê perturba de fato o expectador nesse trecho é a sensação –reforçada por uma ausência de maiores informações –de que esse afastamento de Claire da família, da vida que tinha antes, de tudo é uma condição que ela terá de aceitar como irreversível.
Moldando um drama de características incomuns mas nem por isso menos contundentes, Todd Haynes entrega uma obra profética em relação à comportamentos que surgiriam de fato a medida que a humanidade caminhou para a virada do milênio.
Embora desconhecido do grande público, este é um dos grandes filmes (senão o único) a abordar com coragem e firmeza tais elementos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário