Tendo sido responsável pelo filme que
viabilizou a construção do Universo Marvel no cinema (“Homem de Ferro”), além
de sua continuação, de outra obra de imodestas intenções comerciais (o não tão
bem-sucedido “Cowboys & Aliens”) e da excelente e aplaudida versão
live-action de “Mogli-O Menino Lobo”, o ator e diretor Jon Favreau experimentou
certamente as mais variadas facetas da ribalta –desde o reconhecimento numa
obra popular passando pela frustração de um trabalho sem o mesmo êxito e a reafirmação
de sua capacidade.
Em face dessa trajetória, a trama de “Chef”
pode ser perfeitamente vista como uma metáfora transparente e espirituosa sobre
os percalços da criação artística.
Para tanto, é significativo que Favreau
(normalmente aparecendo como coadjuvante nos filmes dirigidos por si próprio)
tenha reservado a si mesmo o papel de protagonista –a identificação não somente
é plena, mas ele deseja também torná-la óbvia para o expectador.
Ele é Carl Casper, chef de cozinha de um
restaurante cujo proprietário (Dustin Hoffman, uma das muitas participações
especiais que surgirão) acomodou-se ao básico para satisfazer seus clientes:
Nada de inovações culinárias, mantendo sempre o mesmo menu que faz sucesso
entre a clientela fidedigna.
“Se você fosse num show dos Rolling Stones não
ficaria indignado se Mick Jagger não cantasse ‘Satisfaction’?” argumenta ele.
Os atritos com Casper começam em função disso:
Lá vem um exigente crítico gastronômico (Oliver Platt) para avaliar o chef que,
devido a isso, quer dar uma bela reformulada no menu. O proprietário é contra
e, por conta disso, Casper recebe severas críticas por sua acomodação
–iniciando assim uma atrapalhada rusga digital com o crítico trocando hilárias
farpas pelo Twitter (que ele aprendeu a pouco, com o filho pequeno, a usar!).
Incapaz de demonstrar todo o potencial de sua
arte, Casper se demite, mas as presepadas na internet ao invés de fazê-lo
famoso o fizeram infame: Apesar de seu talento não há contratantes interessados
no chef disponível.
É sua ex-esposa (vivida por uma deslumbrante
Sofia Vergara) quem sugere aquilo do qual ele procurava evitar: Trabalhar em um
trailer-lanchonete.
Entretanto, é ali, naquele pequeno restaurante
ambulante –num tour que vai de Miami até Los Angeles (e levando a tiracolo seu
sub-chef interpretado por John Leguizano e seu filho vivido por Emjay Anthony) –que
Casper irá redescobrir o prazer de exercer a própria arte sem as amarras do
protocolo, estreitar os laços entre ele e seu próprio rebento e, quem sabe,
reacender a chama do amor que outrora tivera pela ex-mulher.
Sem maiores pretensões como a de fascinar os
críticos ou de arrebatar as bilheterias, e munido de uma simplicidade salutar –tal
e qual seu próprio protagonista –o diretor Jon Favreau prepara, em “Chef”, um
prato delicioso em todos os sentidos; é um desafio não ficar com água na boca
diante dos takes constantes de pratos apetitosos e convidativos que os
personagens preparam ao longo de todo o filme.
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