sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Chef


Tendo sido responsável pelo filme que viabilizou a construção do Universo Marvel no cinema (“Homem de Ferro”), além de sua continuação, de outra obra de imodestas intenções comerciais (o não tão bem-sucedido “Cowboys & Aliens”) e da excelente e aplaudida versão live-action de “Mogli-O Menino Lobo”, o ator e diretor Jon Favreau experimentou certamente as mais variadas facetas da ribalta –desde o reconhecimento numa obra popular passando pela frustração de um trabalho sem o mesmo êxito e a reafirmação de sua capacidade.
Em face dessa trajetória, a trama de “Chef” pode ser perfeitamente vista como uma metáfora transparente e espirituosa sobre os percalços da criação artística.
Para tanto, é significativo que Favreau (normalmente aparecendo como coadjuvante nos filmes dirigidos por si próprio) tenha reservado a si mesmo o papel de protagonista –a identificação não somente é plena, mas ele deseja também torná-la óbvia para o expectador.
Ele é Carl Casper, chef de cozinha de um restaurante cujo proprietário (Dustin Hoffman, uma das muitas participações especiais que surgirão) acomodou-se ao básico para satisfazer seus clientes: Nada de inovações culinárias, mantendo sempre o mesmo menu que faz sucesso entre a clientela fidedigna.
“Se você fosse num show dos Rolling Stones não ficaria indignado se Mick Jagger não cantasse ‘Satisfaction’?” argumenta ele.
Os atritos com Casper começam em função disso: Lá vem um exigente crítico gastronômico (Oliver Platt) para avaliar o chef que, devido a isso, quer dar uma bela reformulada no menu. O proprietário é contra e, por conta disso, Casper recebe severas críticas por sua acomodação –iniciando assim uma atrapalhada rusga digital com o crítico trocando hilárias farpas pelo Twitter (que ele aprendeu a pouco, com o filho pequeno, a usar!).
Incapaz de demonstrar todo o potencial de sua arte, Casper se demite, mas as presepadas na internet ao invés de fazê-lo famoso o fizeram infame: Apesar de seu talento não há contratantes interessados no chef disponível.
É sua ex-esposa (vivida por uma deslumbrante Sofia Vergara) quem sugere aquilo do qual ele procurava evitar: Trabalhar em um trailer-lanchonete.
Entretanto, é ali, naquele pequeno restaurante ambulante –num tour que vai de Miami até Los Angeles (e levando a tiracolo seu sub-chef interpretado por John Leguizano e seu filho vivido por Emjay Anthony) –que Casper irá redescobrir o prazer de exercer a própria arte sem as amarras do protocolo, estreitar os laços entre ele e seu próprio rebento e, quem sabe, reacender a chama do amor que outrora tivera pela ex-mulher.
Sem maiores pretensões como a de fascinar os críticos ou de arrebatar as bilheterias, e munido de uma simplicidade salutar –tal e qual seu próprio protagonista –o diretor Jon Favreau prepara, em “Chef”, um prato delicioso em todos os sentidos; é um desafio não ficar com água na boca diante dos takes constantes de pratos apetitosos e convidativos que os personagens preparam ao longo de todo o filme.

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