sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Ao Vivo de Bagdá


Quando lançou este brilhante telefilme em 2003, a HBO provou-se tão ou mais audaciosa que as produções cinematográficas ao dedicar toda a atenção deste longa-metragem a uma impressionante história absolutamente digna de ganhar o conhecimento do público.
Interpretado com um brilho e uma inteligência que o ator Michael Keaton só expressou em obras cinematográficas a partir da década seguinte, o protagonista Robert Wiener é um irrequieto produtor de reportagens para a CNN que, no início da década de 1990, era uma pequena rede de noticiários para a TV 24 horas por dia.
Wiener fareja uma grande reportagem quando o Iraque de Saddam Hussein invade o pequeno estado do Kuwait, acirrando os nervos para um grave conflito.
Junto de sua equipe de reportagem –na qual está sua produtora de confiança, Ingrid Formanek (Helena Boham Carter) –eles partem para Bagdá, dispostos e registrar o estado das coisas, os ânimos inevitavelmente acirrados da população e, com sorte, capturar algum grande furo.
Contra eles, há toda sorte de disputa –velada ou declarada –com os repórteres de redes rivais (algumas com recursos muito mais vastos) e ainda o feroz patrulhamento dos políticos e militares locais que não permitem o registro de imagens ofensivas ao seu país.
Usando de toda a desenvoltura que pode, Wiener conquista a amizade do Ministro de Informação (David Suchet) tentando negociar com ele uma entrevista com o próprio Saddam Hussein, enquanto sofre derrota atrás de derrota pelos outros canais jornalísticos em busca de reportagens especiais.
A entrevista, após uma penosa deliberação, acontece –dirigida com um primor que a faz uma cena antológica pelo diretor Mick Jackson –conduzida pelo apresentador Bernard Shaw (Robert Wisdom), trazido especialmente dos EUA, dos estúdios da CNN para isso.
Mas, o grande momento de Wiener ainda estava por vir: Quando a data-limite decretada pelo então presidente americano George H.W. Bush para as tropas iraquianas abandonar o Kuwait começa a se aproximar (sem que haja qualquer sinal de negociação da parte de Hussein), fica claro que quando a guerra eclodir, Bagdá não será um lugar seguro para ninguém.
Se os correspondentes americanos já passavam apreensão –retratada em diversas sequências primorosas –a partir daí seu medo é de uma profundidade inapelável: Todos sabem que a única alternativa racional é deixar Bagdá.
Todavia, enquanto os outros se enfileiram nos aeroportos para partir, Wiener sofre um dilema: Deixar o país em segurança e voltar para sua família, ou ficar e registrar em primeira mão um acontecimento histórico sem precedentes na conjuntura sócio-política mundial?
Pelo menos dois de seus companheiros estavam certos de ficar, John Holliman (John Carroll Lynch) e o corajosamente insano Peter Arnett (Bruce McGill). É ao lado deles e de Bernard Shaw que Wiener, na madrugada de 16 de janeiro de 1991 se torna parte da única equipe de reportagem (todas as outras deixaram Bagdá) a cobrir em tempo real o início da Guerra do Golfo diretamente da janela de seu hotel de onde eles testemunharam as horripilantes cenas da batalha aérea entre as Forças de Coalizão e a infantaria antiaérea do Iraque.
Um feito que fez da CNN uma verdadeira lenda entre as emissoras jornalísticas.
Diretor de filmes cheios de energia, porém superficialmente comerciais (suas obras mais famosas até então eram a comédia “L.A. Story”, “O Guarda-Costas” e “Volcano-A Fúria”), Mick Jackson imprime à narrativa toda a urgência de que ela precisa, exibindo um equilíbrio magnífico entre a atenção aos vastos e pertinentes detalhes e o impecável cuidado na construção de um todo espetacular, no qual entrega uma lição de história moderna e uma aula de jornalismo destemido, além, claro de um dos grandes filmes da década de 2000.

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