Logo nos primeiros minutos podemos notar em “A
Selva” uma realização incomum para os normalmente modestos padrões do cinema
brasileiro.
Explica-se: Embora ambientado no Brasil –mais precisamente
na Amazônia –e povoado por atores brasileiros, “A Selva” é uma produção
portuguesa com técnicos e profissionais portugueses –e embora isso não seja de
conhecimento popular por aqui, o cinema realizado em Portugal é uma indústria
engajada, séria e sólida.
Pena que, no frigir dos ovos, “A Selva” não
seja o exemplar mais vibrante dessa vertente.
1912. o comércio da borracha segue firme na
selva amazônica tendo por efeito colateral a inclemente exploração da mão de
obra dos seringueiros, que arriscam-se em acampamentos precários no coração das
selvas sem a devida proteção contra os índios –a cena que abre o filme, uma
sequência de suspense que precede um ataque indígena já deixa muito claro o
potencial comercial e o conhecimento de narrativa dos artesãos portugueses.
É, portanto, um português que se acha no centro
da trama: Alberto (vivido pelo galã Diogo Morgado) vem ao Brasil em condições
inóspitas. Familiares obtém uma contratação para que ele tenha um sustento, mas
de imediato fica bem claro o árduo preço que viver naqueles confins de mundo
irá lhe cobrar –além, claro, do antagonismo injustificado e rancoroso do
capataz Velasco (Karra Elejalde).
Conduzido até o centro quase inacessível do
seringal, Alberto fica sob proteção do benevolente e humilde Firmino (o
fabuloso Chico Diaz) ao lado do qual toma conhecimento da rotina ingrata e
massacrante dos seringueiros.
Após uma dura adaptação, ele é chamado devido
ao fato de ser inteligente e alfabetizado, ao armazém da propriedade de seu
contratante, Juca Tristão (Claudio Marzo) e passa a conviver com o gerente
(Gracindo Jr.) e sua esposa Dona Yayá (a inebriante Maitê Proença).
A presença de uma mulher de beleza tão notável
num ambiente tão hostil e rarefeito desperta dos instintos do jovem, mesmo que
ele se esforce para colocar suas intenções a frente de seus desejos.
Embora seja o elemento que mais se destaca na
narrativa, gerando mais interesse que todas as outras dinâmicas apresentadas, o
romance entre Alberto e Yayá não chega a ser o cerne da premissa e nem tampouco
leva a qualquer conflito mais expressivo até chegar ao desfecho.
Aliado e um ritmo lento é essa indefinição que
depõe contra o filme impedindo-o de se mostrar interessante de fato ao público.
Poderia ser uma obra sobre as pulsões
incontroláveis do amor (como são tantos bons filmes a esse respeito); poderia
ser uma bela produção sobre a vida espiritualmente calejada dos trabalhos do
norte amazonense, mas na dispersão entre uma coisa e outra, o filme do diretor
Leonel Vieira não é nada disso.
É bem executado, bem conduzido e bem
interpretado, contudo, não tarda a se revelar raso e enfadonho –um exercício de
estilo notável para nós brasileiros, mas a aula sobre conteúdo deve ter ficado
reservada a algum outro filme...
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