quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Pixar Short Film Collection 3


Já tendo resenhado os volumes 1 e 2 desta maravilhosa coleção de curtas-metragens animados (muitos deles indicados ou merecidamente premiados com o Oscar da categoria), vamos ao volume 3:
Bao
Ostentando uma maturidade que aos poucos foi se infiltrando em trabalhos da Pixar –sem, no entanto, nunca deixar de soar lúdico –este curta (o primeiro dirigido por uma mulher, a chino-canadense Domee Shi) leva o nome do bolinho chinês recheado de carne que a protagonista, uma dedicada dona de casa, prepara já no início para o marido.
Um desses bolinhos, contudo, cria vida (!), e ela decide então cuidar dele.
A narrativa carregada de lirismo acompanha o crescimento vagaroso do bolinho (que nunca deixa de ser pequeno) e os esforços da mãe em proteger sua fragilidade.
Indiferente a isso, o bolinho passa a querer independência, sair com os amigos, arrumar uma namorada; e se ressente da proteção da mãe.
Até que, ao tentar sair de casa para ir morar com a namorada, a mãe dele toma uma atitude radical –e espantosa!
Um belíssimo conto sobre as angústias existenciais da maternidade, “Bao” certamente é mais dirigido ao público adulto do que às crianças.
Lou
Há uma espécie de criatura, neste curta, que é constituída dos apetrechos extraviados pelas crianças numa escolinha. Tais apetrechos se acham na caixa de achados e perdidos.
É essa criatura desengonçada que leva o nome de Lou.
Ele assiste, de dentro de sua caixa, o bullying provocado por um menino metido à valentão. Contudo, ao tentar deter suas grosserias com as outras crianças, Lou descobre uma vantagem: Ele tem um bichinho de pelúcia perdido pelo menino –cujo extravio supostamente foi razão para a mágoa que ele agora descarregada nos outros.
Há assim, um acordo: Lou quer que os apetrechos voltem para seus donos que os perderam e o menino, se nisso o ajudar, terá seu bichinho de volta.
Mas, a cada item devolvido, um pedaço de Lou se vai, fazendo-o se desmanchar.
Brilhante exemplo do domínio narrativo dos profissionais da Pixar, bem como seu entendimento intrínseco do universo infantil e seus meandros sentimentais, ainda que aqui eles pareçam deliberadamente mais contidos onde são imbatíveis: A emoção.
Piper-Descobrindo O Mundo
Incluído nas cópias de “Procurando Dory”, este curta acompanha, com uma riqueza de detalhes absolutamente deslumbrante, a iniciação de uma pequenina ave litorânea.
Piper está habituada às comodidades do ninho em que nasceu, mas sua mãe sabe que já está na hora de ensiná-la a ir atrás de seu próprio alimento.
Como todas as aves, Piper tem de encontrar os apetitosos mariscos que se escondem na areia da praia, enquanto desvia-se dos arrebatadores vagalhões do mar.
Numa ocasião, Piper ganha motivos de sobra para temer as ondas para sempre. Mas, eis que um pequeno sirizinho irá mostrar para ela um pequeno truque que irá transformar Piper na mais habilidosa das catadoras de marisco.
Os Heróis de Sanjay
Conto muito pessoal da autoria do jovem animador Sanjay Patel, sob o prisma de sua própria infância e da relação com o pai desejoso de incutir no filho o respeito pela sua cultura e religião indiana –o pequeno Sanjay no entanto, como toda criança norte-americano dos anos 1980 e 90 –era vidrado mesmo nas séries animadas de super-heróis que via na TV.
Durante uma sessão forçada de oração, porém, Sanjay tem um vislumbre do espetacular potencial heroico que têm as divindades que englobam a fé indiana.
O Primeiro Encontro da Riley?
Aguardadíssimo curta por trazer novamente os adorados personagens do longa “Divertida Mente”: Entretanto, a menina Riley e as cinco emoções que habitam sua mente (Alegria, Triteza, Raiva, Nojinho e Medo) não têm uma participação assim tão grande; o curta se ocupa mais de mostrar a hilária reação do pai de Riley (assim como das cinco emoções correspondentes em seu cérebro) quando tem a terrível notícia de que Riley aparentemente vai sair com um garoto pela primeira vez!
Tal garoto –o rapazinho acanhado que aparece na cena final do longa-metragem –aparece na casa e o pai, desconfiado e ciumento, faz marcação cerrada; e a narrativa explora as reações completamente distintas dentro da cabeça de cada um, até que subitamente os dois descobrem uma inesperada compatibilidade.
Lava
Antecipando nos cinemas o longa-metragem “Divertida Mente”, este lindo curta é todo musicado, composto de toda uma balada em ritmo havaiano.
Do alto de sua glória geológica, um vulcão testemunha fascinado cada criatura encontrar seu próprio par, gaivotas, baleias, tartarugas, golfinhos, e almeja também ter sua própria cara-metade, o que acaba gerando a inebriante canção que conduz o curta.
Como a letra vai explicando, de fato, a natureza providencia uma espécie de ‘vulcão fêmea’ que surge gradativamente no fundo do mar, encantada pela música que o escuta cantar.
Entretanto, com a passagem ininterrupta do tempo, a medida em que ela vai nascendo, ele vai morrendo.
As 500 ½ de Radiator Springs
Oriundo dos longa-metragens de “Carros” –ao lado de “Toy Story”, aqueles que mais renderam curtas –esta trama acompanha as comemorações de um feriado importante na cidadezinha de Radiator Springs.
Nessa ocasião, surge um corredor procurando Relâmpago McQueen para desafiá-lo. Dividindo-se entre a disputa de McQueen e as galhofas de Tom Mate, o curta apresenta a mesma comédia graciosa e convencional já relacionada aos curtas estrelados por estes personagens.
Central da Festa
Situado em algum ponto de “Universidade dos Monstros” –e, portanto, anos antes dos eventos de “Monstros S.A.”, do qual é um prequel –a trama acompanha uma festa de arromba que a turma de Mike e Sully pretende dar.
Só pretende, pois, ao mesmo tempo, uma república rival na universidade está monopolizando a atenção de todos com uma festança!
Mas, Mike e Sully têm um plano: Eles vão usar os famosos portais de portas de armário que conduzem ao nosso mundo para trazer inadvertidamente todos os convidados de uma festa para a outra (!).
O Guarda-Chuva Azul
Ostentando o repertório visual mais realista dentre todos os trabalhos da Pixar –incluindo aí seus longa-metragens –e comentado por uma trilha sonora que é toda delicadeza, este “O Guarda-Chuva Azul” segue a tradição (que praticamente nasceu com o conceito de desenhos animados) de conceder vida a objetos inanimados; prática que hoje encontra na Pixar seus mais brilhantes artesãos.
O guarda-chuva azul do título  executa seu usual trabalho de sempre –o de servir ao seu usuário nos dias chuvosos –enquanto é levado por uma metrópole (que tem toda pinta de Nova York) através de marquises, fachadas de prédios, placas, postes e toda sorte de objetos inanimados que demonstram ter vida e sentimentos: Os humanos aparecem, numa notável inversão de valores, como elementos ornamentais às cenas, ainda que concedidos em texturas e movimentos ultrarrealistas para uma animação computadorizada.
Em determinado momento, eis que nosso guarda-chuva azul enxerga na multidão o seu par: Um guarda-chuva vermelho –uma fêmea, portanto, de sua ‘espécie’.
Os caminhos distintos que seus usuários vão tomar, em meio ao fluxo de todas as coisas, podem afastá-los, mas eles têm uma infinidade de amigos na metrópole para leva-los a se encontrar.
Apesar desse lirismo e do inquestionável capricho visual existe algo em “O Guarda-Chuva Azul” que o impede de atingir a primeira grandeza que outras obras da Pixar alcançaram com tanta facilidade: A incapacidade de salientar, com espirituosidade e inteligência, os aspectos geniais inerentes a sua premissa.
A Lenda de Mor’du
Curta que estende, até de maneira bastante redundante, a trama criada para “Valente”. Trata-se de um ancestral da princesa Merida que, assim como ocorre com sua mãe, acaba se transformando num urso.
Entretanto, ao clamar a uma bruxa por poder e converter-se no grande animal, Mor’du não enxerga sua transformação como uma maldição –ele se satisfaz de tal forma com a força descomunal que adquire que abraça por completo sua transmutação, abandonando por completo sua humanidade.
Festa-Sauro Rex
Ligeiramente ressentido com seus amigos brinquedos (leia-se, toda a turma de “Toy Story”!), o boneco de Tiranossauro chamado Rex acaba indo parar na banheira quando a pequena Bonny (dona de todos eles desde “Toy Story 3”) resolve lá leva-lo para tomar banho.
Ali estão, com algumas exceções como o próprio Rex, todos os brinquedinhos destinados exclusivamente ao banho –ou seja, dependem da água para se movimentar. Seus únicos instantes de alegria são, portanto, os quinze minutos diários de banho.
Rex, contudo, quer reverter sua recente fama de estraga-prazeres e, aproveitando que tem braços e pernas (ao contrário de seus novos amigos) resolve abrir o esguicho de água e tampar o ralo da banheira. Resultado: Todos os brinquedos da banheira agora têm uma chance de festar indefinidamente, e Rex –proclamado ‘Festa-Sauro Rex’! –tem agora admiradores que o consideram o cara mais legal do mundo!
A festa, porém, perde um pouco do controle quando a água da banheira transborda!

Há também os curtas de bônus como este Entrevistas da Vida Marinha que mostra vários personagens de “Procurando Dory” prestando divertidos depoimentos.
Já em Escola de Corrida da Maria Busão vemos numa linguagem promocial –trata-se de um comercial assistido na TV –alguns personagens vistos em “Carros 3”, às voltas com as incertezas de seu ofício.
Magnífica oportunidade para (além de se divertir) apreciar o avanço exponencial obtido pela Pixar no campo de sua arte.

Nenhum comentário:

Postar um comentário