Já tendo resenhado os volumes 1 e 2 desta
maravilhosa coleção de curtas-metragens animados (muitos deles indicados ou
merecidamente premiados com o Oscar da categoria), vamos ao volume 3:
Bao
Ostentando uma maturidade que aos poucos foi se
infiltrando em trabalhos da Pixar –sem, no entanto, nunca deixar de soar lúdico
–este curta (o primeiro dirigido por uma mulher, a chino-canadense Domee Shi)
leva o nome do bolinho chinês recheado de carne que a protagonista, uma
dedicada dona de casa, prepara já no início para o marido.
Um desses bolinhos, contudo, cria vida (!), e
ela decide então cuidar dele.
A narrativa carregada de lirismo acompanha o
crescimento vagaroso do bolinho (que nunca deixa de ser pequeno) e os esforços
da mãe em proteger sua fragilidade.
Indiferente a isso, o bolinho passa a querer
independência, sair com os amigos, arrumar uma namorada; e se ressente da
proteção da mãe.
Até que, ao tentar sair de casa para ir morar
com a namorada, a mãe dele toma uma atitude radical –e espantosa!
Um belíssimo conto sobre as angústias
existenciais da maternidade, “Bao” certamente é mais dirigido ao público adulto
do que às crianças.
Lou
Há uma espécie de criatura, neste curta, que é
constituída dos apetrechos extraviados pelas crianças numa escolinha. Tais
apetrechos se acham na caixa de achados e perdidos.
É essa criatura desengonçada que leva o nome de
Lou.
Ele assiste, de dentro de sua caixa, o bullying
provocado por um menino metido à valentão. Contudo, ao tentar deter suas
grosserias com as outras crianças, Lou descobre uma vantagem: Ele tem um
bichinho de pelúcia perdido pelo menino –cujo extravio supostamente foi razão
para a mágoa que ele agora descarregada nos outros.
Há assim, um acordo: Lou quer que os apetrechos
voltem para seus donos que os perderam e o menino, se nisso o ajudar, terá seu
bichinho de volta.
Mas, a cada item devolvido, um pedaço de Lou se
vai, fazendo-o se desmanchar.
Brilhante exemplo do domínio narrativo dos
profissionais da Pixar, bem como seu entendimento intrínseco do universo
infantil e seus meandros sentimentais, ainda que aqui eles pareçam
deliberadamente mais contidos onde são imbatíveis: A emoção.
Piper-Descobrindo O Mundo
Incluído nas cópias de “Procurando Dory”, este
curta acompanha, com uma riqueza de detalhes absolutamente deslumbrante, a
iniciação de uma pequenina ave litorânea.
Piper está habituada às comodidades do ninho em
que nasceu, mas sua mãe sabe que já está na hora de ensiná-la a ir atrás de seu
próprio alimento.
Como todas as aves, Piper tem de encontrar os
apetitosos mariscos que se escondem na areia da praia, enquanto desvia-se dos
arrebatadores vagalhões do mar.
Numa ocasião, Piper ganha motivos de sobra para
temer as ondas para sempre. Mas, eis que um pequeno sirizinho irá mostrar para
ela um pequeno truque que irá transformar Piper na mais habilidosa das
catadoras de marisco.
Os Heróis de Sanjay
Conto muito pessoal da autoria do jovem
animador Sanjay Patel, sob o prisma de sua própria infância e da relação com o
pai desejoso de incutir no filho o respeito pela sua cultura e religião indiana
–o pequeno Sanjay no entanto, como toda criança norte-americano dos anos 1980 e
90 –era vidrado mesmo nas séries animadas de super-heróis que via na TV.
Durante uma sessão forçada de oração, porém,
Sanjay tem um vislumbre do espetacular potencial heroico que têm as divindades
que englobam a fé indiana.
O Primeiro Encontro da Riley?
Aguardadíssimo curta por trazer novamente os
adorados personagens do longa “Divertida Mente”: Entretanto, a menina Riley e
as cinco emoções que habitam sua mente (Alegria, Triteza, Raiva, Nojinho e
Medo) não têm uma participação assim tão grande; o curta se ocupa mais de
mostrar a hilária reação do pai de Riley (assim como das cinco emoções
correspondentes em seu cérebro) quando tem a terrível notícia de que Riley
aparentemente vai sair com um garoto pela primeira vez!
Tal garoto –o rapazinho acanhado que aparece na
cena final do longa-metragem –aparece na casa e o pai, desconfiado e ciumento,
faz marcação cerrada; e a narrativa explora as reações completamente distintas
dentro da cabeça de cada um, até que subitamente os dois descobrem uma
inesperada compatibilidade.
Lava
Antecipando nos cinemas o longa-metragem
“Divertida Mente”, este lindo curta é todo musicado, composto de toda uma
balada em ritmo havaiano.
Do alto de sua glória geológica, um vulcão
testemunha fascinado cada criatura encontrar seu próprio par, gaivotas,
baleias, tartarugas, golfinhos, e almeja também ter sua própria cara-metade, o
que acaba gerando a inebriante canção que conduz o curta.
Como a letra vai explicando, de fato, a
natureza providencia uma espécie de ‘vulcão fêmea’ que surge gradativamente no
fundo do mar, encantada pela música que o escuta cantar.
Entretanto, com a passagem ininterrupta do
tempo, a medida em que ela vai nascendo, ele vai morrendo.
As 500 ½ de Radiator Springs
Oriundo dos longa-metragens de “Carros” –ao lado
de “Toy Story”, aqueles que mais renderam curtas –esta trama acompanha as
comemorações de um feriado importante na cidadezinha de Radiator Springs.
Nessa ocasião, surge um corredor procurando Relâmpago
McQueen para desafiá-lo. Dividindo-se entre a disputa de McQueen e as galhofas
de Tom Mate, o curta apresenta a mesma comédia graciosa e convencional já
relacionada aos curtas estrelados por estes personagens.
Central da Festa
Situado em algum ponto de “Universidade dos
Monstros” –e, portanto, anos antes dos eventos de “Monstros S.A.”, do qual é um
prequel –a trama acompanha uma festa de arromba que a turma de Mike e Sully
pretende dar.
Só pretende, pois, ao mesmo tempo, uma
república rival na universidade está monopolizando a atenção de todos com uma
festança!
Mas, Mike e Sully têm um plano: Eles vão usar
os famosos portais de portas de armário que conduzem ao nosso mundo para trazer
inadvertidamente todos os convidados de uma festa para a outra (!).
O Guarda-Chuva Azul
Ostentando o repertório visual mais
realista dentre todos os trabalhos da Pixar –incluindo aí seus
longa-metragens –e comentado por uma trilha sonora que é toda delicadeza, este
“O Guarda-Chuva Azul” segue a tradição (que praticamente nasceu com o conceito
de desenhos animados) de conceder vida a objetos inanimados; prática que hoje
encontra na Pixar seus mais brilhantes artesãos.
O guarda-chuva azul do título executa seu usual trabalho de sempre –o de
servir ao seu usuário nos dias chuvosos –enquanto é levado por uma metrópole
(que tem toda pinta de Nova York) através de marquises, fachadas de prédios,
placas, postes e toda sorte de objetos inanimados que demonstram ter vida e
sentimentos: Os humanos aparecem, numa notável inversão de valores, como
elementos ornamentais às cenas, ainda que concedidos em texturas e movimentos
ultrarrealistas para uma animação computadorizada.
Em determinado momento, eis que nosso
guarda-chuva azul enxerga na multidão o seu par: Um guarda-chuva vermelho –uma
fêmea, portanto, de sua ‘espécie’.
Os caminhos distintos que seus usuários vão
tomar, em meio ao fluxo de todas as coisas, podem afastá-los, mas eles têm uma
infinidade de amigos na metrópole para leva-los a se encontrar.
Apesar desse lirismo e do inquestionável
capricho visual existe algo em “O Guarda-Chuva Azul” que o impede de atingir a
primeira grandeza que outras obras da Pixar alcançaram com tanta facilidade: A
incapacidade de salientar, com espirituosidade e inteligência, os aspectos geniais
inerentes a sua premissa.
A Lenda de Mor’du
Curta que estende, até de maneira bastante
redundante, a trama criada para “Valente”. Trata-se de um ancestral da princesa
Merida que, assim como ocorre com sua mãe, acaba se transformando num urso.
Entretanto, ao clamar a uma bruxa por poder e
converter-se no grande animal, Mor’du não enxerga sua transformação como uma
maldição –ele se satisfaz de tal forma com a força descomunal que adquire que
abraça por completo sua transmutação, abandonando por completo sua humanidade.
Festa-Sauro Rex
Ligeiramente ressentido com seus amigos
brinquedos (leia-se, toda a turma de “Toy Story”!), o boneco de Tiranossauro
chamado Rex acaba indo parar na banheira quando a pequena Bonny (dona de todos
eles desde “Toy Story 3”) resolve lá leva-lo para tomar banho.
Ali estão, com algumas exceções como o próprio
Rex, todos os brinquedinhos destinados exclusivamente ao banho –ou seja,
dependem da água para se movimentar. Seus únicos instantes de alegria são,
portanto, os quinze minutos diários de banho.
Rex, contudo, quer reverter sua recente fama de
estraga-prazeres e, aproveitando que tem braços e pernas (ao contrário de seus
novos amigos) resolve abrir o esguicho de água e tampar o ralo da banheira.
Resultado: Todos os brinquedos da banheira agora têm uma chance de festar
indefinidamente, e Rex –proclamado ‘Festa-Sauro Rex’! –tem agora admiradores
que o consideram o cara mais legal do mundo!
A festa, porém, perde um pouco do controle
quando a água da banheira transborda!
Há também os curtas de bônus como este Entrevistas da Vida Marinha que mostra
vários personagens de “Procurando Dory” prestando divertidos depoimentos.
Já em Escola
de Corrida da Maria Busão vemos numa linguagem promocial –trata-se de um
comercial assistido na TV –alguns personagens vistos em “Carros 3”, às voltas
com as incertezas de seu ofício.
Magnífica oportunidade para (além de se
divertir) apreciar o avanço exponencial obtido pela Pixar no campo de sua arte.
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