Talvez o dado mais notável de “Elvis & Anabelle”
seja seu diretor de fotografia: O veterano, premiado e hoje já falecido Conrad
Hall (que venceu o Oscar da categoria por “Beleza Americana”, entre outras
ocasiões).
Realmente, mais do que seu roteiro abarrotado
de situações forçosamente disfuncionais para um romance entre indivíduos
incompatíveis; mais do que sua condução algo desanimada do diretor Will Geiger
(que é também o roteirista), é a direção de fotografia, sempre construindo
imagens sedutoras e encontrando os enquadramentos mais envolventes, que
consegue extrair o máximo de potencial da narrativa.
Elvis Moreau (o jovem Max Minghella, filho do
diretor Anthony Minghella, de “O Paciente Inglês”) é um jovem taciturno,
anti-social e solitário. Mesmo as circunstâncias que o fazem ser assim não
fogem muito do clichê: Ele mora e trabalha numa casa funerária, embalsamando
com perícia obsessiva os cadáveres no lugar do pai já debilitado fisicamente
(vivido de forma comovente por Joe Mantegna que havia tempos não dava as caras
nas telas).
A outra ponta do inevitável par romântico da
história é Anabelle Leigh (Blake Lively, na época em que ainda fazia o
seriado “Gossip Girl”) cuja caracterização também tem lá sua própria dose de
clichê: Anabelle é linda e, para tanto, frequenta concursos de beleza que a tornam
popular na cidade e preenchem de orgulho sua mãe (Mary Steenburgen, muito
bonita), outrora também uma miss.
Mas... ei! Anabelle se ressente dessa vida!
Isso não a faz feliz.
Não que ela ou Elvis façam muito esforço para
mudarem suas rotinas.
O que ameaça levar suas vidas a uma
transformação é, na verdade, um acontecimento bastante arbitrário e até
desonesto do roteiro: Na noite em que é coroada como vencedora do concurso Miss
Texas, Anabelle cai morta (!).
Ou, pelo menos, é o que parece: Levada à funerária
onde Elvis trabalha para que seja embalsamada, ela subitamente desperta –do que
aparentemente foi um caso extremamente raro registrado pela ciência (em cujas
explicações o filme tem pouquíssima intenção de se demorar).
O marasmo periga se abater sobre a narrativa
novamente –um perigo que ronda o filme o tempo todo –até que sem razões muito
claras, Anabelle resolve fugir de casa e ficar morando com Elvis e seu pai,
tornando tudo, além de enfadonho, previsível.
“Elvis & Anabelle” é aquilo que parece: Um romance
entre o jovem introspectivo e sisudo e a garota popular e inalcançável que as
artimanhas da narrativa a farão ‘alcançável’, para então, lá pelas tantas,
inventar um pretexto muito do mal explicado para eles tornarem a se afastar.
Ainda que o roteiro e a direção façam malabarismos para não parecer que é bem
isso –e mesmo nessa tentativa, ele falha!
Dessa forma, seu maior mérito –a direção de
fotografia de Conrad Hall –acaba gerando um efeito colateral: Dono de imagens
bem concebidas e com frequência encantadoras (ainda mais quando Blake Lively
está em cena), o filme acaba atraindo o expectador por um suposto primor que no final
das contas ele não tem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário